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Investidor deve receber vitória de Bolsonaro com otimismo, mas quer detalhes e mira transição de governo

Publicado 28.10.2018, 23:18
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Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - Investidores devem receber com otimismo a eleição de Jair Bolsonaro neste domingo para a Presidência do Brasil, em meio a apostas de que a sua equipe econômica adotará uma agenda positiva para o país, mas a manutenção do ânimo dependerá de sinais claros sobre o comprometimento da nova administração, notadamente detalhes sobre os planos para a economia.

De acordo com estrategistas e gestores, os desafios são grandes, mas avaliam que o presidente eleito deve ter o benefício da dúvida em um primeiro momento, diante das expectativas de um governo reformista e liberal, o que pode dar suporte aos ativos financeiros brasileiros, principalmente em um ambiente externo mais desafiador.

"O foco está na transição de candidato para presidente eleito, e a consequente melhora da visibilidade em relação ao plano de governo", afirmou a equipe da XP Investimentos capitaneada pelo estrategista Karel Luketic.

"A transição de governo será importante para sabermos de fato o que o governo eleito tentará implementar no Brasil a partir de janeiro, já que na campanha eleitoral a discussão de propostas não foi a tônica. A não priorização das reformas, ou propostas mais complexas de difícil aprovação, traria risco e volatilidade", afirmou em relatório a clientes neste domingo.

No primeiro discurso após derrotar o petista Fernando Haddad no segundo turno da eleição, por 55,1 por cento contra 44,9 por cento dos votos válidos, Bolsonaro afirmou que seu governo será comprometido com a responsabilidade fiscal, ressaltando que o déficit público deve ser eliminado o mais rápido possível e convertido em superávit.

"Quebraremos o ciclo vicioso do crescimento da dívida, substituindo pelo ciclo virtuoso de menores déficits, dívida decrescente e juros mais baixos. Isso estimulará os investimentos, o crescimento e a consequente geração de emprego", afirmou o presidente eleito.

Dan Kawa, responsável pela área de Fundos Multimercados e Macro Alocação da Icatu Vanguarda, ressalta que o novo governo precisa aprofundar e detalhar suas propostas e planos, que ainda são muito vagos e em "alguns casos a conta não fecha". Ele vê espaço para otimismo e avalia que o governo Bolsonaro poderá trazer avanços importantes para a economia e as reformas, mas também enxerga riscos exógenos.

"O cenário externo e a vontade política do Congresso Nacional podem afetar a execução da agenda e, eventualmente, trazer ruído, mesmo que pontuais", afirmou.

Para Yacov Arnopolin, gestor de portfólio de mercados emergentes na Pimco, as principais questões giram em torno da capacidade de formar coalizões no Congresso Nacional, uma vez que, apesar de vários mandatos como deputado federal, Bolsonaro tem um histórico parlamentar limitado. "Investidores estão se perguntando se o otimismo terá vida curta em face dos desafios de governabilidade", afirmou.

Na última sexta-feira, o Ibovespa (BVSP), índice de referência do mercado acionário brasileiro, fechou a 85.719,87 pontos, acumulando em outubro alta de 8 por cento. O dólar encerrou a 3,6546 reais na venda, menor valor desde os 3,6483 de 24 de maio de 2018. O contrato de DI para janeiro de 2020 fechou a 7,37 por cento.

O ETF de ações brasileiras negociadas em Tóquio (T:1325) avançou mais de 10 por cento após a confirmação da vitória de Bolsonaro, conforme mostraram todas as pesquisas de intenção de votos.

HORIZONTE

Em coletiva após o resultado da eleição, o economista Paulo Guedes, que comandará o Ministério da Fazenda no governo de Bolsonaro, prometeu buscar zerar o déficit fiscal em um ano e disse ainda que a nova administração fará marcos regulatórios para investimentos em infraestrutura, apontando o setor privado como motor do crescimento.

Bernd Berg, estrategista global de macro e moedas na Woodman Asset Management, disse que está confiante de que Bolsonaro vai realizar as reformas necessárias para reduzir o déficit fiscal. "Eu continuo eufórico para as perspectivas para o mercado brasileiro", afirmou, estimando o Ibovespa em 130 mil pontos e o dólar em 3 reais até meados de 2019.

"À medida que os bancos e os investidores internacionais se tornarem positivos (com o Brasil), haverá um reposicionamento enorme de carteiras em relação aos ativos brasileiros", calcula ele, prevendo uma recuperação sustentada e prolongada no ciclo econômico brasileiro após a forte recessão nos anos anteriores. "O Brasil superará todos os outros mercados globalmente."

A equipe da XP estima que o benefício da dúvida pode levar o Ibovespa a até 100 mil pontos até o final do ano; a curva de juros a precificar a Selic em 7,5 por cento- 8,5 por cento em 2020 e 10 por cento em 2030; e o dólar a recuar no curto prazo para o nível de 3,50-3,70 reais. A equipe da XP considera, porém, como mais adequado que a cotação fique entre 3,70 reais e 4,00 reais dado o cenário de risco externo.

"Para que este movimento seja sustentável, a evolução das reformas é crucial. Caso as reformas se materializem ao longo de 2019, a bolsa poderia buscar os 125 mil pontos até o final do próximo ano", avalia a XP, conforme relatório a clientes.

Henrique Bredda, gestor na Alaska Asset Management, ressaltou que fundos no Brasil não mudaram suas posições de forma relevante e seguem bastante defensivos e com baixo risco. "Se os fundos resolverem montar posições otimistas, o bolsa deverá subir muito forte, e o dólar despencar", disse, considerando provável o Ibovespa superar 100 mil pontos e o dólar ir 3,40 reais se os fundos montarem posições otimistas.

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Para Mauricio Molan, economista-chefe do banco Santander Brasil (SA:SANB11), o novo presidente terá fortes incentivos para promover uma crença geral na disposição e na capacidade da administração de reequilibrar as contas fiscais.

"Esperamos que o anúncio de uma equipe econômica favorável ao mercado, a construção de uma coalizão política e a divulgação gradual de planos mais detalhados nas próximas semanas sejam bem recebidos pelos investidores", afirmou em relatório no último dia 25 de outubro, no qual revisou a previsão para o dólar para 3,50 reais no final de 2018 ante 3,80 reais anteriormente.

Estrategistas do Morgan Stanley (NYSE:MS) afirmaram em relatório também com data do último dia 25 que para os próximos cinco a seis meses investidores só precisam sonhar mais. "A partir de março de 2019, depois que o Congresso voltar do Carnaval, os sonhos terão que se tornar uma realidade", disse a equipe liderada por Guilherme Paiva.

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