Elías L. Benarroch.
Jerusalém, 24 abr (EFE).- Longe ainda do autoabastecimento, o começo do exploração de gás natural no Mediterrâneo dá a Israel um respiro substancial em sua despesa energética e lhe garante um crescimento de cerca de um ponto percentual em seu PIB.
"O preço mais baixo do gás e a economia em gasóleo e outros carburantes que progressivamente serão substituídos chegará aos 12 bilhões de shekels anuais (US$ 3,310 bilhões)", disse à Agência Efe Shuki Stern, diretor da Autoridade Nacional de Gás Natural, sobre o impacto mais imediato do exploração da jazida Tamar.
A economia, que reduz também a pressão financeira pela compra de menos divisa, é apenas uma das vantagens de Israel em sua nova condição de produtor de gás natural.
"Haverá direitos de exploração e receita fiscal, e Israel terá que importar muito menos petróleo", explicou o geólogo Yacov Gilboa, diretor de uma das empresas que descobriu a jazida a cerca de 90 quilômetros do litoral norte de Israel.
Encontrada no final dos anos 2000, a jazida se transformou no motor energético do país com a abertura de válvulas para a Companhia Nacional de Eletricidade, principal consumidor com quase a metade da despesa energética nacional.
A economia final dependerá de até que ponto o mercado israelense transforme seu consumo, processo que a indústria começou há alguns anos por novas políticas ambientais e interesse econômico.
A conta: um barril de petróleo custa em torno de US$ 100 e seu equivalente energético em gás natural, cerca de 6.000 pés cúbicos, custará entre US$ 25 e US$ 30.
Em águas comerciais ao noroeste de Haifa, Tamar tem uma expectativa de exploração de entre 25 e 30 anos ao ritmo atual de consumo (17% do mercado), mas o Ministério de Energia quer equilibrá-lo para 50% dentro de uma década.
A transformação inclui que 20% do parque automotor dependa em 2020, direta ou indiretamente, do gás, e não do petróleo como até agora.
Nesta mudança influi também a recente descoberta de outra jazida muito maior, Levyatan, que garante a Israel uma completa independência no abastecimento durante 50 anos adicionais.
A duração de ambos dependerá da decisão política de se permitir a exportação, demanda das concessionárias locais e internacionais.
"A prospecção de recursos energéticos é extremamente custosa e sem exportar não se poderão construir as infraestruturas necessárias", sustenta Itzhak Tshuva, presidente de uma das investidoras em Tamar.
A americana Nobel Energy, principal concessionária de Levyatan, condicionou futuros investimentos para que o Governo israelense autorize a exportação "da metade do potencial achado".
"Israel lucrará com a exportação através dos impostos, e receberá o dinheiro muito mais rápido", explicou seu presidente, Chuck Davidson, em uma entrevista ao "Canal 10" na qual advertiu ao Ministério das Finanças que não mude as condições de exploração.
Há apenas três anos as leis israelenses estipulavam uma porcentagem ínfima de 12,5% por direitos de exploração de recursos naturais, fixado em 1952 para estimular uma busca que, apesar dos esforços, não deram resultados concretos.
Com a única exceção de fosfatos e minerais no Mar Morto, em terra firme a "Terra prometida" não emanava nem leite nem mel e até relativamente pouco tempo atrás era impossível perfurar o subsolo marinho a grandes profundidades.
A primeira descoberta de importância, a jazida Yam Tetis em 2004, esgotada no ano passado, levou Israel a reconsiderar sua política fiscal sobre recursos naturais e em 2011 o Parlamento aprovou uma contribuição de até 60% do lucro obtido.
As perspectivas de exploração de Levyatan, uma das duas maiores descobertas desta última década no mundo todo, terá um impacto crucial para o mercado israelense.
"É uma nova era de oportunidades empresariais para nossa economia, que poderá se beneficiar do gás em nível de meio ambiente, geopolítico, social e econômico", segundo Tshuva.
Um dos dividendos mais imediatos será meio ponto percentual no crescimento de seu Produto Interno Bruto (PIB) este ano, suplemento que chegará entre um e dois pontos quando a produção atingir sua máxima cota por volta de 2014-2015.
Consciente da bonança, o presidente do Banco de Israel, Stanley Fischer, pediu que este inesperado tesouro seja usado "no bem-estar das gerações vindouras", ou seja, na criação de "futuros motores de desenvolvimento" que não dependam exclusivamente da natureza.
Em uma região rica em petróleo como a do Oriente Médio, o espírito da economia israelense foi paradoxalmente a inovação tecnológica e a pesquisa científica, resposta à severa escassez de recursos naturais que sofria até a primeira semana deste mês. EFE
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