Por Federico Maccioni e Cristiano Corvino
MILÃO (Reuters) - O ex-premiê italiano Silvio Berlusconi continua dividindo seu país mesmo após a morte, depois que uma decisão do governo, que inclui seu ex-partido, de homenageá-lo com um dia nacional de luto na quarta-feira gerou polêmica.
Berlusconi morreu na segunda-feira aos 86 anos. Seu funeral de Estado, que acontecerá na tarde desta quarta-feira na Catedral de Milão, deve atrair milhares de pessoas, incluindo líderes políticos e dignitários estrangeiros.
Alguns políticos da oposição italiana, incluindo o ex-premiê Giuseppe Conte, recusaram-se a comparecer à cerimônia, enquanto a ex-ministra de centro-esquerda Rosy Bindi disse que uma "santificação inadequada" estava ocorrendo.
Ex-premiês italianos já receberam funerais de Estado no passado, mas esta é a primeira vez que um dia nacional de luto, uma honraria sem precedentes, também é convocado. Cabe ao governo declará-lo.
A Itália é governada por uma coalizão de direita formada pelos partidos Irmãos da Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, a Liga, de Matteo Salvini e o partido de Berlusconi, Força Itália.
O dia de luto não é feriado, mas sim uma homenagem simbólica em que bandeiras são hasteadas a meio mastro em prédios públicos. O Parlamento Europeu também decidiu prestar as suas homenagens desta forma.
Bindi, uma mulher frequentemente difamada pelas piadas sexistas de Berlusconi, disse que o dia nacional foi "desrespeitoso com a maioria" dos italianos que se opõem ao falecido líder.
Berlusconi foi uma figura altamente divisiva que estabeleceu molde para outros empresários que se tornaram políticos, como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, com uma carreira pontuada por escândalos e processos judiciais.
Em Milão, coroas de flores foram empilhadas na fachada da catedral da cidade antes do funeral, enquanto telas gigantes foram instaladas para permitir que as pessoas acompanhem da praça.
Entre elas estava Lucia Adiele, membro do Força Itália que viajou quase 1.000 quilômetros de sua casa em Altamura, sul da Itália, para se despedir de seu político favorito.
"Tive a sorte de fazer parte do Força Itália por 18 anos. Também tive a sorte de conhecê-lo. O mínimo que podia fazer era estar aqui e dizer adeus pela última vez", disse ela à Reuters TV.
Espera-se que cerca de 2.300 pessoas estejam na catedral, incluindo Meloni, o presidente Sergio Mattarella e a líder do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, Elly Schlein.
A atividade parlamentar foi suspensa nesta quarta-feira para permitir que os políticos participem da cerimônia.