Por Irene Wang
HIROSHIMA (Reuters) - O vencedor do Oscar de melhor filme, "Oppenheimer", finalmente estreou no Japão nesta sexta-feira, em meio a preocupações sobre como o tema nuclear seria recebido no único país que sofreu com os efeitos da bomba atômica.
O maior vencedor da cerimônia do Oscar no começo do mês, o filme dirigido por Christopher Nolan sobre o físico norte-americano J. Robert Oppenheimer, que liderou a corrida para desenvolver a bomba atômica, arrecadou quase 1 bilhão de dólares na bilheteria mundial.
Mas o Japão havia ficado fora das exibições globais até agora, apesar de ser um grande mercado para Hollywood. Explosões nucleares devastaram as cidades de Hiroshima, no oeste, e Nagasaki, no sul, no fim da Segunda Guerra Mundial, matando mais de 200.000 pessoas.
"Claro que é um filme incrível que merece vencer o Oscar", disse o morador de Hiroshima, Kawai, 37 anos, que informou apenas o seu sobrenome.
"Mas o filme também retrata a bomba atômica de uma maneira que parece elogiá-la e, como uma pessoa com raízes em Hiroshima, achei difícil de ver".
Grande fã dos filmes de Nolan, Kawai, funcionário público, foi ver "Oppenheimer" no dia da estreia em um cinema que fica a apenas um quilômetro do Domo da Bomba Atômica da cidade.
"Não tenho certeza se este é um filme que os japoneses deveriam fazer um esforço especial para assistir", acrescentou.
Imagens nas redes sociais mostraram cartazes afixados nas entradas de alguns teatros de Tóquio, alertando que o filme apresentava imagens de testes nucleares que poderiam evocar os danos causados pelas bombas.
Outro residente de Hiroshima, Agemi Kanegae, teve sentimentos confusos ao finalmente assistir ao filme.
"Valeu muito a pena assistir ao filme", disse o aposentado de 65 anos. "Mas me senti muito desconfortável com algumas cenas, como o julgamento de Oppenheimer nos Estados Unidos no final."
O filme rapidamente se tornou um sucesso global após sua estreia nos Estados Unidos em julho passado. Mas muitos japoneses ficaram ofendidos com memes online de "Barbenheimer" criados por fãs que o ligavam a "Barbie", um sucesso de bilheteria que estreou na mesma época.
A Universal Pictures inicialmente deixou o Japão fora de sua programação de lançamento global de "Oppenheimer". Eventualmente adquirido pela Bitters End, uma distribuidora japonesa de filmes independentes, recebeu uma data de lançamento após a cerimônia de premiação do Oscar.
Falando à Reuters antes da estreia do filme, a sobrevivente da bomba atômica Teruko Yahata disse que estava ansiosa para vê-lo, na esperança de revigorar o debate sobre as armas nucleares.
Yahata, agora com 86 anos, disse que sentia alguma empatia pelo físico por trás da bomba. Esse sentimento foi ecoado por Rishu Kanemoto, um estudante de 19 anos, que assistiu ao filme nesta sexta-feira.
"Hiroshima e Nagasaki, onde as bombas atômicas foram lançadas, são certamente as vítimas", disse Kanemoto.
"Mas acho que embora o inventor seja um dos perpetradores, ele também é a vítima apanhada na guerra", acrescentou, referindo-se ao físico.
(Reportagem de Irene Wang em Hiroshima)