Os juros terminaram a sessão regular praticamente estáveis, com viés de baixa nos longos e de alta nos curtos. A forte queda do dólar ante o real e o recuo do rendimento dos Treasuries deram suporte ao movimento da curva a partir do miolo durante boa parte da sessão, apesar da nova escalada dos preços do petróleo acima de US$ 120 por barril no caso do Brent. Na ponta curta, a dinâmica foi limitada pela perspectiva negativa sobre a inflação, na véspera da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) e com o IPCA-15 de março na sexta-feira.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou em 12,975%, de 12,942% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024 ficou em 12,64%, de 12,627% na terça. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa estável em 12,06% e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 11,87% para 11,85%.
O operador de renda fixa da Mirae Asset Paulo Nepomuceno cita o dólar como ponto central da trajetória da curva, em meio ao forte fluxo de entrada de recursos, nesta quarta em especial para a Bolsa. "A ponta curta não se mexe em função do petróleo, mas ao mesmo tempo, com o câmbio fazendo o contraponto", disse.
O avanço dos preços das commodities - o minério de ferro também subiu - é um ponto de atração de fluxo para o Brasil, onde a Bolsa tem boa parte das blue chips atrelada a matérias-primas. Outro imã é a elevada taxa de juros brasileira, que mantém interessantes as operações de carry trade, mas nesta quarta especificamente operadores afirmam que a renda fixa não teve tanto destaque de fluxo. O dólar fechou nesta quarta em R$ 4,8442 (-1,44%), menor nível desde 13 de março de 2020.
A aversão ao risco geopolítico voltou a puxar os preços do petróleo, com recrudescimento do temor sobre o conflito no leste europeu, dados os sinais de que o Ocidente pode reforçar as sanções contra a Rússia. O barril do Brent, referência para a Petrobras (SA:PETR4), subiu 5,3%, a US$ 121,60. A questão geopolítica também amparou o mercado de títulos do Tesouro americano, com a busca pela segurança derrubando os yields, a despeito da perspectiva hawkish para a política monetária do Federal Reserve.
O economista-chefe e sócio da JF Trust, Eduardo Velho, diz que no curtíssimo prazo, está difícil um preço médio do barril de US$ 100 no cenário referencial do Banco Central, num cenário em que a defasagem crescente com o preço internacional aumenta o potencial de reajuste e da transmissão interna sobre os outros preços. "A probabilidade de a Selic atingir 14% não pode ser descartada, mas Roberto Campos do Bacen não deve se comprometer: caso sejam adotadas mais 'benesses fiscais', esse cenário será reforçado", afirmou.
Na terça, a ata do Copom reiterou a ideia de que o ciclo de ajuste da Selic terá mais uma alta de 1 ponto porcentual, para 12,75%, em maio, mas deixou a porta aberta para doses além dos 13%.
Campos Neto, em evento promovido pela Fiesp e pelo TCU, enfatizou nesta quarta que o Brasil tem se diferenciado de outros países no combate à inflação, com um movimento mais forte de aperto monetário. "O Brasil tem sido mais atuante em uma inflação que entendemos ser mais persistente. A inflação contaminou os núcleos e hoje está acima da meta em serviços, comércio e indústria. Precisamos endereçar esse problema com serenidade e firmeza", completou. Ele também voltou a citar que o pico da inflação em 12 meses ocorrerá em abril deste ano.