Os juros fecharam a sessão regular desta terça-feira em queda, após passarem o dia oscilando sem tendência clara. O alívio foi atribuído a declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e também à virada para baixo dos preços do petróleo. Em audiência numa comissão da Câmara, Campos Neto reforçou a ideia de que o ciclo de aperto da Selic está no fim, destacando a valorização do câmbio e a melhora do quadro fiscal, além dos riscos à atividade se os juros subirem muito. Nada que o mercado já não soubesse, mas a fala serviu de argumento para devolver prêmios um dia após a disparada das taxas.
Lá fora, as preocupações com a inflação global, a alta das commodities e do rendimento dos Treasuries limitaram uma correção durante a sessão, em contraponto à surpresa positiva da agenda de indicadores domésticos e ao recuo do dólar.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,38%, de 13,415% na segunda-feira no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 caiu de 13,001% para 12,885%. O DI para janeiro de 2025 encerrou a sessão regular com taxa de 12,255%, de 12,385%, e a do DI para janeiro de 2027 passou de 12,23% para 12,12%.
Em parte da manhã, a queda do dólar, os dados do setor público melhores do que o consenso e a queda da taxa de desemprego na Pnad acima do que apontava a mediana das estimativas tentavam direcionar os juros para baixo, mas o exterior jogava contra, mesmo com a China anunciando medidas para aquecer a economia. Um dia após a surpresa negativa com os preços ao consumidor na Alemanha, a inflação recorde, de 8,1% em maio em termos anuais, na zona do euro acentuou os temores de que o Banco Central Europeu (BCE) possa começar a apertar o juro com dose de 50 pontos-base em julho.
Nesse contexto de volatilidade, o Tesouro reduziu os lotes de NTN-B ofertados no leilão, para 800 mil, de 1,2 milhão na semana passada. Ainda assim, vendeu apenas 660.750 títulos, com demanda integral apenas pela ponta curta. Da oferta de 150 mil da NTN-B 2045, foram vendidas apenas 10.750.
Na etapa vespertina, o mercado viu espaço para melhora com Campos Neto e o recuo do petróleo. A despeito das ponderações quanto à pressão do núcleo da inflação e da contaminação da inflação global no Brasil, Campos Neto fez questão de destacar que o mercado entende que ciclo de juros no Brasil está perto do fim e reiterou que o País saiu na frente no combate à inflação. "O Brasil subiu mais os juros e colocou em campo mais restritivo. Muitos países ainda estão com juros reais negativos, e por isso o mercado ainda espera que os países desenvolvidos subam muito os juros nos próximos meses", disse.
"Ele admitiu persistência inflacionária elevada, em particular, de alimentos e energia, que vão contaminando toda a cadeia produtiva, mas reforçou a tese que Brasil estaria melhor comparativamente aos seus pares, como por exemplo, o desempenho da nossa moeda ante o G20 e a recente revisão para cima do FMI referente ao crescimento do Brasil", afirmou o economista Eduardo Velho, sócio da JF Trust.
Já o petróleo, que mais cedo avançava, à tarde passou a cair com a informação de que membros da Opep estudam elevar a oferta da commodity, de acordo com reportagem do Wall Street Journal, trazendo alívio à curva local, na medida em que os preços de combustíveis são um dos principais fatores a impulsionar a inflação e alimentar a polêmica em torno da Petrobras (SA:PETR4).