A curva de juros terminou a quinta-feira com taxas intermediárias e longas em alta e a semana da Páscoa com ganho de inclinação em torno de 20 pontos-base. Num ambiente de forte aversão ao risco fiscal, com a questão do Orçamento ainda mal resolvida, pesaram sobre os negócios o avanço do dólar, do petróleo e os receios com a evolução da covid-19, em meio aos sucessivos recordes diários de casos e mortes no País, que vão minando a expectativa de uma solução a curto prazo. Mas como a curva já vem há dias muito inclinada e também comparado ao nível da pressão do câmbio, o avanço das taxas foi considerado "normal" para o padrão recente, até porque o comportamento dos Treasuries nesta quinta ajudou. O Tesouro trouxe oferta maior de títulos no leilão, mas como foi concentrada em papéis curtos, não adicionou grande risco ao mercado.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 4,625%, de 4,605% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 8,066% para 8,20%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,79% no fim da sessão regular, ante 8,704% no ajuste anterior.
O dia não teve um fator específico a justificar o comportamento da curva, explicado pelo clima doméstico ruim que vem pressionando os ativos há meses, somado ao desempenho negativo do real e o salto de 3% nos preços do petróleo. Segundo um gestor, é uma combinação "bombástica" para a inflação, na medida em que pode suscitar novos reajustes nos preços internos de combustíveis.
Por outro lado, os sinais de fraqueza da atividade, e que podem influenciar nas próximas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), vieram nesta quinta em duas frentes. Pela manhã, a produção industrial de fevereiro caiu 0,7% ante janeiro, quando a mediana das estimativas era de alta de 0,5%, e as expectativas para março e abril são pessimistas, em meio à paralisação de várias unidades do setor automobilístico e aperto das restrições ao comércio e serviços no País.
À tarde, o Ministério da Economia informou que o superávit da balança comercial de março foi de US$ 1,482 bilhão - abaixo do piso das estimativas de US$ 1,57 bilhão - e no primeiro trimestre de US$ 1,648 bilhão, os piores resultados para o período desde 2015.
Do ponto de vista fiscal, preocupam tanto a escalada da covid-19 na medida em que pode exigir mais ajuda do governo como também o imbróglio em torno do Orçamento, que não terminou com a promessa de corte de R$ 10 bilhões de emendas parlamentares para recompor o valor subestimado das despesas obrigatórias no texto aprovado pelo Congresso.
"O descumprimento do teto dos gastos públicos em 2021 é iminente, caso governo e o Congresso não consigam cortar R$ 20 bilhões e, com revisão para baixo do crescimento econômico e taxa de juros mais elevadas na margem, as estimativas da relação dívida/PIB devem seguir em alta", afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho.