Os juros futuros terminaram a quarta-feira em alta firme, em movimento de realização de lucros, após fechamento em baixa por seis sessões consecutivas. A correção foi estimulada pela piora da percepção sobre o fim do conflito no leste europeu, a alta nos preços das commodities, o IGP-M de março pior do que o esperado. A mobilização de servidores por reajuste salarial vai ganhando dimensão e traz também desconforto aos agentes. Do ponto de vista técnico, o avanço do dólar e a movimentação em torno do leilão de prefixados amanhã igualmente ajudam a explicar a trajetória das taxas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a sessão regular em 12,77%, de 12,695% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,006% para 12,18%. O DI para janeiro de 2025 terminou em 11,51%, de 11,31%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 11,33%, de 11,21%.
"O principal hoje é o aumento da preocupação com a inflação tanto aqui quanto lá fora, num contexto em que o BC já avisou que si vai aumentar mais uma vez. Agora à tarde, o fiscal está também pressionando", descreve o estrategista-chefe do CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, ao mesmo tempo lembrando que desde manhã a inflação ao consumidor na Alemanha, de 7,3% em março em termos anuais, ante previsão de +6,2%, e o IGP-M já incomodavam.
O IGP-M desacelerou de 1,83% em fevereiro para 1,74% este mês, contra mediana das estimativas de 1,32%. Não chegou a, isoladamente, alterar a percepção sobre o ciclo da Selic, mas lido em conjunto a outros vetores do dia acabou servindo de gatilho para a correção da curva. Até porque a aceleração ante o IGP-DI (1,18%), por exemplo, é explicada pelo avanço de 3,22% do IPA Agropecuário. E, nesta quarta-feira, em meio à falta de avanço no diálogo entre Rússia e Ucrânia, subiram as cotações da café, soja, trigo e milho, assim como a do petróleo - o barril do Brent para junho fechou nesta quarta em US$ 114,44 (+3,46%). Mesmo com as commodities em alta, houve piora no câmbio doméstico, que também passou por correção e influenciado ainda pelo início das disputas pela Ptax de fim de mês, na terça.
Quanto ao fiscal, o déficit do Governo Central, de R$ 20,6 bilhões em fevereiro, maior do que apontava a mediana das projeções, de R$ 16,2 bilhões, nem foi o maior problema, mas sim o temor com relação ao aumento das pressões por reajustes salariais de servidores em ano eleitoral. Se conceder aumento só para policiais, como prometido pelo presidente Jair Bolsonaro, o governo terá aberto uma Caixa de Pandora, com cada vez mais categorias pleiteando o seu quinhão. O secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, afirmou que diversas carreiras buscam aumento, mas o espaço orçamentário para isso é de apenas R$ 1,7 bilhão. O economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, calcula que possíveis reajustes a servidores e desonerações de impostos representam um risco de mais de R$ 100 bilhões às contas públicas.