Os juros futuros fecharam com viés de alta nos vencimentos de curto e médio prazos e estáveis no longo, com o mercado adotando uma postura mais defensiva na reta final dos negócios. Em boa parte da tarde, porém os curtos ficaram perto da estabilidade e os longos recuavam, refletindo a agenda doméstica e o alívio na curva dos Treasuries. O IPCA-15 de novembro superou a mediana das projeções, mas trouxe leitura favorável dos preços de abertura. Por isso, o dado não alterou o cenário de apostas para a política monetária e as taxas curtas acabaram oscilando entre margens estreitas. As longas se apoiaram nos Treasuries, na queda do dólar e no superávit primário do Governo Central acima da mediana das estimativas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 20225 encerrou em 10,450%, de 10,40% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 passou de 10,07% para 10,13%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,23%, de 10,21% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2029 fechou em 10,63% (de 10,64%).
Na primeira parte da sessão, os juros subiam em bloco, refletindo as reações iniciais ao IPCA-15 e o avanço das taxas americanas. Os yields respondiam à alta maior do que a esperada da confiança do consumidor nos EUA e com alguma cautela antes de discursos de dirigentes do Federal Reserve programados para o dia. Mais tarde, as taxas nos EUA inverteram o sinal e passaram a cair após o diretor Christopher Waller dizer que está cada vez mais confiante de que a política monetária está em posição para retornar inflação à meta de 2%. Com isso, cresceu a probabilidade de juros estáveis na reunião do Federal Reserve em dezembro (93% para 99%) e a de corte de 100 pontos-base a partir de maio até dezembro de 2024. A taxa da T-Note de 2 anos rodava em 4,73% no fim da tarde, menor nível desde julho.
Sobre o IPCA-15, após o susto inicial, o mercado foi digerindo melhor a inflação de 0,33% ao longo do dia. Apesar de ter subido acima da mediana das estimativas (0,30%), os preços de abertura agradaram. A surpresa foi atribuída a itens voláteis, como passagens aéreas e alimentação, o que não compromete a tendência de desinflação em curso, ainda que a ritmo lento. Em 12 meses, o IPCA-15 desacelerou a alta de 5,05% para 4,84%.
A economista-chefe do TC, Marianna Costa, afirma que, se a inflação seguir nesta trajetória, pode ganhar força um cenário alternativo de aceleração do ritmo de cortes da Selic nas reuniões do Copom do primeiro trimestre de 2024. Até porque o corte de 0,5 ponto está dado e o mercado normalmente busca alguma opção de ganho em caso de surpresa. "Já estamos perto do Copom (dia 10) e, a depender dos dados que sairão até lá, o cenário alternativo de queda de 0,75 tende a se consolidar, especialmente se esta dinâmica do IPCA for se repetindo. Talvez o BC não se sinta confortável para acelerar em dezembro, mas em janeiro é possível", disse.
A diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Fernanda Guardado, em evento hoje promovido pelo Morgan Stanley (NYSE:MS), reiterou a indicação de cortes de 0,5 ponto na Selic nas próximas reuniões e disse que a reavaliação do ritmo exigiria surpresas "relevantes". Segundo a diretora, até agora o cenário se desenrola conforme a autoridade monetária esperava. Mas alertou que, a depender da evolução dos dados, ajustes podem ser feitos.
Na área fiscal, o superávit primário do Governo Central de R$ 18,277 bilhões em outubro ajudou a aliviar a ponta longa do DI, ao ficar acima da mediana das estimativas (R$ 15,5 bilhões), na esteira da surpresa positiva da arrecadação, ontem. "Por mais que a melhora possa ter sido pontual, não deixa de contribuir para o alívio", disse Costa, lembrando que o clima fiscal melhorou depois da manutenção da meta fiscal no relatório final da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) a ser votado na Comissão Mista de Orçamento (CMO).