Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O leilão de energia de reserva agendado pelo governo federal para 13 de novembro, no qual serão contratadas apenas usinas eólicas e solares, deverá testar o apetite dos investidores em fontes renováveis de eletricidade em um momento mais complicado para a economia brasileira.
Segundo consultorias ouvidas pela Reuters, os preços teto definidos para a licitação --16 por cento mais altos do que no último leilão, no caso das eólicas, e 9 por cento, para as usinas fotovoltaicas-- deveria atrair fortemente os investidores em uma conjuntura mais favorável do país e do setor elétrico.
"O preço é atrativo... deve ter um pessoal interessado. Mas, de fato, as empresas estão com um caixa mais apertado. (A disputa no certame) vai depender muito do apetite de quem está com fôlego para captar recursos", afirmou o sócio e líder de energia da PwC, Guilherme Valle.
Para o consultor, a variação cambial deve ser um dos maiores fatores de risco a serem levados em consideração pelas empresas dispostas a vender energia no leilão, assim como o custo de financiamento.
A visão é semelhante à do especialista em energia da Deloitte, Luis Tsutomu.
"A grande pergunta é se essa majoração do preço teto vai ser suficiente para quebrar essa percepção de risco, e acho que o risco maior aqui é o cambial... grande parte dos custos (de usinas eólicas e solares) está atrelada ao dólar", apontou.
No acumulado do ano, o dólar subiu cerca de 45 por cento frente ao real.
Embora vejam o mercado de energias renováveis no Brasil como aquecido, os consultores avaliam que o segmento não está mais imune à crise vivida pelo país.
"Não tem como deixar esse mercado isolado da economia. Todo mundo sofre com a restrição de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o aumento na taxa de juros, a percepção de risco", disse Tsutomu.
Para Guilherme Valle, da PwC, já é possível notar que grandes grupos do setor elétrico brasileiro estão com menos caixa para se comprometer com novos projetos no momento, enquanto a estatal federal Eletrobras (SA:ELET3), que investiu fortemente em eólicas no passado, também enfrenta dificuldades e não é mais uma presença garantida nos leilões.
Assim, Tsutomu, da Deloitte, vê espaço para uma entrada forte de estrangeiros, caso estes olhem para o mercado brasileiro como uma aposta de longo prazo, sem pensar na atual volatilidade dos indicadores do país.
"Temos sido consultados... tem players mundiais olhando e querendo entender cada vez mais nosso mercado... é um momento de eles entrarem no mercado, os ativos estão baratos em dólar, em moeda forte".
De qualquer maneira, os especialistas acreditam que haverá empresas dispostas a entrar no certame e viabilizar a contratação de energia pelo governo, até devido ao grande número de projetos inscritos.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) soma 1.379 empreendimentos cadastrados para o leilão, em um total de cerca de 39 gigawatts em potência, o que equivale a praticamente três hidrelétricas de Itaipu. Desses, 18 gigawatts são de usinas eólicas e 21 gigawatts em solares, aproximadamente.
Serão contratados os projetos que ofertarem o menor preço, até que seja atingida a demanda estabelecida pelo governo para o certame, que não é revelada.
Os leilões de reserva, como o previsto para 13 de novembro, contratam energia para aumentar a segurança do suprimento no sistema, e por isso têm o nível de contratação definido pelo governo sem a necessidade de consulta às distribuidoras.