Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A estatal Eletrobras (SA:ELET3) iniciou negociações com sindicatos de trabalhadores com proposta que prevê congelamento de salários e benefícios, além da retirada de uma cláusula do acordo coletivo que visa evitar demissões em massa, disse à Reuters uma representante do Coletivo Nacional de Eletricitários (CNE).
As conversas acontecem em momento em que a companhia passa por uma reestruturação que inclui planos de desligamento voluntário e vendas de ativos para reduzir dívidas.
A negociação salarial também acontece em meio a planos do governo federal para uma capitalização da companhia por meio da emissão de novas ações, em uma operação que poderá levar o governo a perder o controle da elétrica.
"O que a empresa colocou para nós é que a orientação do governo é de que o acordo não tenha nenhum tipo de impacto econômico. Estão propondo congelamento de praticamente todas as cláusulas sócio-econômicas", disse Fabiola Latino Antezana, integrante da coordenação do CNE.
Segundo um documento dos sindicatos, a Eletrobras apresentou pauta que não prevê reajuste salarial ou em auxílios e benefícios, além da retirada de uma cláusula do acordo coletivo sobre quadro de pessoal, que segundo os trabalhadores facilitaria demissões em massa.
"No ano passado eles já tentaram isso, mas não conseguiram", afirmou Fabiola, acrescentando que a categoria ainda conquistou em 2018 um aumento pela inflação, também após proposta inicial que não previa aumento.
A representante do CNE disse que a orientação dos sindicatos será para que os trabalhadores rejeitem a proposta inicial em assembleias que acontecerão até a próxima sexta-feira, mantendo as negociações com a estatal.
Procurada, a Eletrobras não comentou de imediato sobre as negociações salariais.
A Eletrobras tem passado por uma reestruturação desde 2015, após acumular prejuízos bilionários, mas em meio a esse processo a companhia registrou no ano passado um lucro de 13,3 bilhões de reais, melhor resultado em 20 anos.
A Associação dos Empregados da Eletrobras (AEEL) enviou informe aos trabalhadores, após reunião com a estatal, em que critica a proposta que não prevê reajuste, citando o lucro recorde da companhia.
"A empresa apresentou a mais nefasta de todas as propostas da história do movimento trabalhista na Eletrobras", afirma o documento, segundo o qual a companhia pretende também limitar gratificação de férias e congelar um adicional por tempo de serviço a que os funcionários hoje têm direito.
Apesar do lucro histórico, a Eletrobras afirmou durante a divulgação de seus resultados que sua situação financeira ainda é incompatível com o pagamento integral do dividendo obrigatório a seus acionistas. A empresa propôs distribuir 1,2 bilhão de reais em dividendos, enquanto outros 2,29 bilhões de reais ficarão retidos em reserva especial.
Ao apresentar o balanço, o presidente da companhia, Wilson Ferreira Jr, explicou que a decisão deve-se ao fato de boa parte do lucro da companhia decorrer de uma questão contábil, com reversão de baixas contábeis associadas à usina nuclear de Angra 3, o que não gera caixa para a elétrica.
A Eletrobras fechou 2018 com cerca de 14,3 mil funcionários, contra 26 mil pessoas em 2016, antes do início da gestão de Ferreira, que tem conduzido planos para reduzir custos com pessoal e cortar dívidas por meio da venda de ativos.
(Por Luciano Costa)