Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras (SA:PETR4) reportou nesta sexta-feira o melhor resultado trimestral desde o segundo trimestre de 2011, com um lucro de mais de 10 bilhões de reais favorecido por uma alta nos preços do petróleo Brent, recebimentos bilionários de desinvestimentos e melhora no resultado financeiro.
Um ganho de participação no mercado de derivados no Brasil, em meio a dificuldades enfrentadas pelos competidores para importações de diesel, em função do programa de subsídios, também colaborou para o resultado, que veio acima da expectativa do mercado.
O lucro líquido da companhia disparou mais de 3 mil por cento entre abril e junho, ante os 316 milhões de reais mesmo período do ano passado, quando o resultado foi afetado pela adesão da petroleira a um programa de regularização tributária do governo.
Houve ainda um crescimento de cerca de 45 por cento na comparação com o lucro líquido do primeiro trimestre, refletindo o crescimento do market share de diesel e gasolina, devido à redução de importação por terceiros, resultando em crescimento de 6 por cento das vendas no mercado interno, com destaque para o diesel.
O aumento da participação de mercado da Petrobras ocorreu enquanto concorrentes tiveram dificuldades para importar diesel, em meio à implementação de um programa governamental de subsídios em junho, após a paralisação dos caminhoneiros contra os altos preços do combustível.
O market share do diesel, derivado mais vendido no Brasil, saltou 10 pontos percentuais em junho em relação a março, para 87 por cento.
A Petrobras reportou também maiores margens nas exportações de petróleo, devido ao aumento do petróleo Brent, que segundo a empresa subiu quase 50 por cento, para 74,35 dólares/barril, no segundo trimestre versus o mesmo período do ano passado.
"De um modo geral, a companhia se beneficia do aumento do petróleo Brent, por ser uma grande produtora... mas não adianta o Brent subir se a companhia não estiver preparada para se beneficiar desse aspecto, e a forma é reduzindo seus custos", afirmou o presidente-executivo da empresa, Ivan Monteiro, em entrevista a jornalistas.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado subiu cerca de 57 por cento ante o segundo trimestre do ano passado, para 30,07 bilhões de reais.
Monteiro também admitiu que o programa de subsídios do governo reduziu importação de terceiros, mas disse que está sendo retomada uma normalidade do mercado, no qual a competição tende a se acirrar no segundo semestre.
Relatório do Itaú BBA distribuído a clientes citou o benefício do programa de subsídios, mas chamou a atenção para importação de diesel pela Petrobras, o que levanta "incertezas" na medida em que a estatal poderia voltar a ter perdas no segmento, se for levada a continuar com o movimento de compras externas após o fim da subvenção.
"Como o programa de subsídio ao diesel para o consumidor durará apenas até 31 de dezembro de 2018, e se os preços permanecerem abaixo da paridade, a Petrobras poderia importar e vender o diesel com prejuízo --como foi o caso no passado recente", afirmou o Itaú BBA.
Às 14:20, as ações preferenciais da Petrobras subiam 4,12 por cento, a 21,25 reais, enquanto os papéis ordinários tinham elevação de 3,52 por cento, a 23,23 reais. O resultado trimestral veio acima expectativa de analistas e especialistas ouvidos pela Reuters, que apontavam para um lucro de 1,5 bilhão de dólares no segundo trimestre, ou cerca de 5,6 bilhões de reais, pela taxa de câmbio de 3,73 reais por dólar.
DESINVESTIMENTOS E DIVIDENDOS
Segundo a companhia, o aumento de 134,5 por cento das despesas operacionais na comparação anual, para 14,957 bilhões de reais, foi compensado pela melhora do resultado financeiro, reflexo do ganho com a renegociação de dívidas com o Sistema Eletrobras (SA:ELET3) e da redução das despesas com financiamentos. O aumento das despesas, segundo a empresa, refletiu o resultado negativo com o hedge de óleo, os ajustes de preço relacionados ao acordo da alienação do campo de Roncador e a variação cambial sobre o saldo da provisão Class Action nos EUA.
A Petrobras afirmou que a geração operacional e a entrada de caixa de cerca de 5 bilhões de dólares com os desinvestimentos, no primeiro semestre, propiciaram amortização e pré-pagamentos de dívidas, resultando em uma queda expressiva de 13 por cento no endividamento líquido na comparação com o final do ano passado, somando 73,7 bilhões de dólares ao fim de junho.
Somente no segundo trimestre, a companhia registrou no balanço recebimento de 9,4 bilhões de reais em desinvestimentos.
"A gente espera que essa trajetória consistente permaneça, e a gente tem ganhos importantes com redução muito forte do endividamento, ganho de produtividade, então, sim, a gente espera que a trajetória de recuperação continue", acrescentou o presidente-executivo da empresa, ao comentar os resultados.
Com um dólar firme frente ao real, contudo, a dívida líquida subiu na moeda brasileira, para 284 bilhões de reais, ante 270,7 bilhões de reais ao final do primeiro trimestre e 280,7 bilhões de reais ao fim de 2017.
Com os bons resultados, a Petrobras informou ainda nesta sexta-feira que seu conselho de administração aprovou em reunião na véspera distribuição de remuneração antecipada aos acionistas sob a forma de Juros sobre o Capital Próprio (JCP), no valor de 652,2 milhões de reais, correspondente a 0,05 real por ação, a ser pago em 23 de agosto.
O pagamento será feito com base posição acionária de 13 de agosto. A empresa destacou, ao divulgar os resultados do segundo trimestre, que a remuneração aos acionistas em 2018 já soma 1,3 bilhão de reais, após os resultados da companhia no semestre.
(Reportagem adicional de Paula Arend Laier e Roberto Samora, em São Paulo)