Por Gabriela Mello
SÃO PAULO (Reuters) - A paralisação de caminhoneiros em todo o país afetou as vendas nos sites do Magazine Luiza (SA:MGLU3) e do Mercado Livre, escancarando as fragilidades da infraestrutura logística do país, enquanto representantes do governo se esforçaram para convencer investidores sobre o potencial da economia brasileira em evento de dois dias encerrado nesta quarta-feira na capital paulista.
A greve nacional iniciada por motoristas autônomos há 10 dias, com bloqueio de estradas em mais de 20 Estados, comprometeu o abastecimento de combustíveis e itens alimentícios, refletindo na circulação de transportes coletivos e no comportamento dos consumidores.
O Magazine Luiza chegou a ampliar os prazos de entrega no comércio eletrônico nos dois primeiros dias da paralisação, o que segundo a presidente do conselho de administração, Luiza Trajano, impactou “um pouco” as vendas online. “As lojas físicas não sentiram porque tinham estoque”, comentou a empresária durante o Brasil Investment Forum 2018, em São Paulo, acrescentando que a situação já foi normalizada.
O Mercado Livre também sentiu o impacto da greve dos caminhoneiros no tráfego e nas vendas do site, disse o vice-presidente de operações do grupo de origem argentina, Stelleo Tolda. “Teve menos gente navegando e as vendas desaceleraram, mas esperamos uma normalização ao longo dos próximos quatro dias”, disse o executivo.
De acordo com ele, a maior dificuldade para cumprimento das entregas foi a falta de combustível, por isso os clientes do Mercado Livre foram comunicados sobre uma extensão dos prazos. “Não foi uma questão de adesão dos motoristas ao movimento, até porque trabalhamos principalmente com os Correios“, explicou Tolda.
Na avaliação de Luiza Trajano, a greve dos caminhoneiros se materializou porque o Brasil não escutou os sinais que há tempos apontavam para as consequências da falta de planejamento em infraestrutura.
"O que mais aprendi nesses dias todos (de paralisação) é que temos que ficar atentos aos sinais...o Brasil não escutou o sinal que vinha recebendo há muito tempo", afirmou a empresária. "Vamos dar cartão de crédito para os caminhoneiros, eles mandam no Brasil”, brincou Luiza Trajano.
Tolda, do Mercado Livre, considera a questão logística um dos principais desafios para o desenvolvimento do comércio eletrônico no país, além do acesso básico à Internet e da bancarização. "O Brasil é difícil de operar por todas as razões de infraestrutura logística que conhecemos... Frete é caro, lento e pouco previsível, mas sou otimista porque nenhum desses desafios foi impedimento para chegarmos onde estamos hoje”, afirmou Tolda.
No semana passada, a empresa de acompanhamento do comércio eletrônico Ebit cortou sua projeção para o crescimento do setor em maio de 20,7 para 13,3 por cento. A expectativa inicial era de faturamento de 4,58 bilhões de reais e foi reduzida para 4,3 bilhões.
CONCORRÊNCIA
Questionados sobre uma atuação mais forte da Amazon.com no mercado brasileiro, os empresários disseram estar preparados para enfrentar a concorrência varejista norte-americana.
“A entrada deles é uma realidade... Nos preparamos não só para Amazon e não temos medo, temos respeito. É ótimo ter concorrente bom porque sempre te leva a ser ainda melhor”, afirmou Luiza Trajano, destacando a ampla rede de lojas físicas como uma vantagem competitiva da varejista brasileira.
Tolda ressaltou que a Amazon não poderá simplesmente reproduzir o que faz nos Estados Unidos ou outros mercados. “Existe uma aprendizagem, é preciso se integrar aos meios de pagamentos locais e entender toda a logística... Fazemos isso há 19 anos, eles é que têm que olhar para gente e ver o que fazemos para fazerem melhor”, afirmou o vice-presidente de operações do Mercado Livre.