Calendário Econômico: Inflação no Brasil, EUA dá tom em semana de balanços na B3
Investing.com — O mercado acionário dos Estados Unidos encerrou recentemente seu pior trimestre desde 2022, de acordo com o deVere Group, uma das maiores consultorias financeiras globais. O S&P 500 recuou 4,6% no primeiro trimestre de 2025, marcando sua queda mais acentuada em quase três anos. O desempenho negativo é amplamente atribuído à intensificação da guerra tarifária conduzida pelo presidente Donald Trump, que eleva o risco de um cenário econômico de baixo crescimento com inflação persistente — uma combinação estagflacionária.
Nigel Green, CEO do deVere Group, afirmou que os investidores devem moderar suas expectativas de uma recuperação rápida, destacando a presença de múltiplos vetores de pressão no curto prazo. Para ele, o ambiente atual é produto de decisões políticas deliberadas, e não de choques exógenos, o que agrava seus efeitos sobre o mercado acionário.
A expectativa em torno do chamado “Dia da Libertação”, previsto para esta quarta-feira, adiciona mais tensão aos mercados. Trump deve anunciar uma nova rodada de tarifas universais, que se somam às já vigentes sobre insumos críticos como aço e alumínio — medidas que já pressionaram os custos industriais e desorganizaram cadeias produtivas.
Green avalia que o mercado ainda não precificou completamente os impactos dessas novas tarifas. Segundo ele, há um desalinhamento crescente entre a retórica política e as consequências econômicas. Se as tarifas continuarem avançando em meio à demanda enfraquecida e inflação resiliente, a possibilidade de encontrar suportes consistentes para os preços das ações no curto prazo será reduzida.
Esse receio já se reflete nos indicadores de confiança, tanto por parte de consumidores quanto de empresas. Diversas pesquisas apontam desaceleração nos setores de manufatura e serviços, ambos sensíveis aos custos e à incerteza externa.
Empresas estariam adiando decisões de investimento e contratações diante da falta de previsibilidade. Green criticou a abordagem da administração atual, classificando-a como prejudicial à previsibilidade exigida por gestores empresariais.
Para os analistas da deVere, a queda do 1T25 pode sinalizar mais do que uma correção pontual — podendo ser o início de uma reprecificação estrutural das expectativas de lucro, valuation e risco geopolítico.
O otimismo que sustentou o rali de 2024, baseado na expectativa de cortes de juros e distensão comercial global, não se concretizou. Pelo contrário, os vetores de risco se intensificaram. Com política monetária ainda restritiva, tarifas reacendendo pressões inflacionárias e margens corporativas comprimidas, o risco de novas quedas permanece elevado.
A deVere destaca que, para o investidor de longo prazo, será fundamental adotar estratégias de alocação mais prudentes, com diversificação internacional e foco em gestão ativa de riscos. O ciclo de dependência de megacaps tecnológicas americanas como propulsoras de desempenho parece, ao menos por ora, superado.
Green sugere que os investidores revisem seus pressupostos, alertando que, embora movimentos de alta ainda possam ocorrer, o viés estrutural do mercado mudou. O atual ambiente exige adaptação a uma nova realidade geopolítica e econômica — processo que tende a ser turbulento.
Diante da continuidade de uma política comercial agressiva, a orientação da deVere é clara: manter-se atento à volatilidade de curto prazo e preparado para múltiplos cenários.
Green encerrou distinguindo preparo de temor. A seu ver, o mercado ainda não encontrou um piso definitivo, mas oportunidades surgirão para investidores disciplinados e atentos. No cenário atual, adotar uma postura inerte é, segundo ele, a única escolha indefensável.