Os juros futuros acabaram fechando a sexta-feira em queda, definida na última meia hora da sessão regular na esteira do maior alívio do câmbio, com o dólar chegando a até R$ 5,05 pouco antes do fechamento dos negócios. Mais cedo, chegaram a operar em alta acompanhando a reação inicial dos Treasuries ao discurso considerado "hawkish" do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, mas depois o mercado absorveu as declarações e o movimento perdeu força no começo da tarde.
Evento mais aguardado da semana, a participação de Powell no Simpósio de Jackson Hole não foi capaz de desempatar o quadro das apostas para a próxima reunião de política monetária, em setembro, que continua dividido entre elevação de 75 e 50 pontos-base. Internamente, nem agenda nem noticiário contribuíram para o desenho da curva, com a movimentação no cenário eleitoral mais uma vez em segundo plano.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,73%, de 13,72% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024 encerrou na mínima de 13,08%, de 13,19% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 11,99%, de 12,12% na quinta, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 11,88% para 11,78%.
No acumulado da semana, as taxas devolveram prêmios, mas como na ponta curta a redução foi pouco mais pronunciada, a curva acabou fechando a semana com leve ganho de inclinação.
O mercado esperou a semana inteira para ver se Powell endossaria a leitura dos dados fracos de atividade nos Estados Unidos que saíram nos últimos dias. A comunicação, porém, seguiu com tom prioritário à inflação. Powell afirmou que o compromisso com a estabilidade de preços nos EUA é "incondicional", que o foco é a meta de 2% e que restaurar a estabilidade dos preços ainda levará "algum tempo", com um período de baixo crescimento e "alguma dor" para famílias norte-americanas e empresas.
Para o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, o discurso foi hawkish como o esperado, mas no curtíssimo prazo não há sinal claro sobre se é 75 ou 50, nem sobre o destino final da taxa. "A mensagem transmitida é de que não vão afrouxar enquanto não controlarem a inflação e vejo um quadro bastante confortável para que o Fed faça o que está dizendo que vai fazer. É um discurso crível", afirmou. "No price action, porém, hoje não fez muita diferença", completou, afirmando que com a credibilidade do Fed, o "tranco" de um discurso mais duro acabou sendo absorvido.
A reação inicial às declarações foi de alta nas taxas futuras no fim da manhã, alinhadas à aceleração do avanço dos Treasuries, mas no decorrer da tarde a pressão, em ambos os mercados, arrefeceu. Aqui, a aceleração da queda do dólar no fim da tarde deu o empurrão derradeiro para colocar os DIs em trajetória de baixa, após subirem nas duas últimas sessões. Nas mesas, operadores citam fluxo positivo em ambos os mercados.
No âmbito local, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mostrou visão animadora sobre o comportamento das estimativas de inflação, nesta sexta em evento organizado pela 1618 Investimentos. "A gente vê as expectativas do mercado para a inflação deste ano caindo, um pouco pelas medidas do governo. A gente acha que as expectativas de inflação de 2023 e 2024 começaram a acomodar e vão começar a cair em algum momento", disse.