SÃO PAULO (Reuters) - A moagem de cana do centro-sul do Brasil na primeira quinzena de agosto somou 42,5 milhões de toneladas, alta de 26,26% ante o mesmo período do ano passado, o que permitiu que a produção de etanol hidratado batesse um recorde para o período, uma vez que também continua elevada a destinação da matéria-prima para o biocombustível em detrimento do açúcar.
A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) informou nesta sexta-feira que a produção de etanol alcançou 2,39 bilhões de litros nos 15 primeiros dias de agosto, alta de 20,63% quando comparado ao mesmo período de 2018.
Deste volume, 1,66 bilhão de litros é de etanol hidratado, o concorrente da gasolina, e o restante, 730,43 milhões de litros, ao etanol anidro, misturado ao combustível fóssil no Brasil.
"Este é um novo recorde da produção de hidratado para uma primeira quinzena de agosto, superando, inclusive, volumes produzidos no pico de safras passadas", disse o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, em nota.
Já produção de açúcar do centro-sul na primeira quinzena de agosto também foi forte, atingindo 2,1 milhões de toneladas, alta de 24,27% ante o mesmo período do ano passado, apesar de a principal região sucroenergética do mundo estar destinando somente pouco mais de 35% da cana para a fabricação do adoçante.
"Esse recorde (do etanol) reflete em uma baixa proporção de matéria-prima direcionada à fabricação de açúcar", notou a Unica, destacando que menor a produção do adoçante refletirá em exportações menores da commodity.
Para a entidade, o etanol é mais remunerador que o açúcar e continua atraindo consumidores, com o setor registrando vendas de 86,31 milhões de litros (por dia útil) na primeira parte agosto, praticamente igual aos 86,42 milhões de litros/dia apurados na metade final de julho.
ACUMULADO DA SAFRA
Com a forte moagem na primeira parte de agosto --ainda que tenha ficado quase 2 milhões de toneladas abaixo da expectativa da pesquisa da S&P Global Platts, o total acumulado na safra 2019/20 igualou o processamento registrado no mesmo período do ciclo passado.
A moagem de cana atingiu 350,3 milhões de toneladas no acumulado da safra até a primeira quinzena, apesar de no Estado de São Paulo, principal Estado produtor do centro-sul, ainda existir uma queda de 2,5%, para 204,3 milhões de toneladas.
Desde o início do atual ciclo até a primeira quinzena de agosto, a produção acumulada de etanol somou 17,87 bilhões de litros (-1,39% ante o mesmo período do ano passado), sendo 5,52 bilhões de litros de anidro (-0,89%) e 12,35 bilhões de litros de hidratado (-1,62%).
No caso do açúcar, a quantidade fabricada alcançou 15,45 milhões de toneladas, 6,34% abaixo do valor observado em igual período de 2018.
"Com cerca de 60% da safra concluída, não observamos uma intensificação na fabricação de açúcar", comentou Padua.
"Até o momento, a retração atinge 1,05 milhão de toneladas e indica que novamente o Brasil reduzirá a oferta de açúcar destinada para exportação, mas sem comprometer seu fornecimento ao mercado doméstico."
Em termos de kg de açúcar fabricados por tonelada de matéria-prima processada, esse índice totalizou 44,13 kg por tonelada até 16 de agosto, uma retração importante sobre os 47,13 kg apurados até a mesma data de 2018.
A quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) na região centro-sul diminuiu de 136,23 kg por tonelada em 2018 para 130,89 kg no acumulado do ciclo 2019/2020.
Em relação à produtividade agrícola, dados apurados pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) apontam que o rendimento médio da área colhida de abril a julho totalizou 83,22 toneladas de cana-de-açúcar por hectare, aumento anual de 2,90%.
"Apesar desse crescimento na produtividade agrícola acumulada, a retração na qualidade da matéria-prima impacta bastante a quantidade total de ATR disponível para conversão em açúcar e etanol", explicou o diretor da Unica.
(Por Roberto Samora)