(Reuters) - O Ministério Público Federal encaminhou à Justiça quatro denúncias separadas referentes às investigações sobre um esquema supostamente criminoso de concessão de crédito da Caixa Econômica Federal para empresas, e pediu o pagamento de mais de 3 bilhões de reais em multas e reparação de danos, informou o MPF nesta sexta-feira.
O esquema revelado pela força-tarefa Greenfield, referente às investigações da Operação Cui Bono, funcionava com o pagamento de propina a autoridades em troca de concessão de operações de crédito da Caixa para as empresas Marfrig (SA:MRFG3), Bertin, J&F e o Grupo BR Vias e Oeste Sul Empreendimentos Imobiliários, de acordo com os procuradores.
"As investigações demonstraram a existência de três frentes criminosas: o grupo empresarial; o grupo dos empregados públicos que operavam na Caixa e no FGTS; o grupo político e de operadores financeiros", disse o MPF em comunicado.
As denúncias revelam a atuação dos ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves e do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, além de diversos operadores financeiros e empresários, segundo o MPF.
Até o momento foram identificados os repasses de valores ilícitos de 89,5 milhões de reais para Cunha; 17,9 milhões de reais para Geddel e 6,7 milhões de reais para Alves, disse o MPF, que contou com acordos de colaboração premiada de operadores, além de provas colhidas em investigações, para basear as denúncias.
Cunha e Geddel já estão presos por envolvimento em escândalos de corrupção, enquanto Alves já esteve preso mas atualmente está em liberdade. Não foi possível fazer contato com os advogados deles de imediato.
A Marfrig, questionada pela Reuters sobre as denúncias, disse que o empresário Marcos Molina dos Santos, presidente do conselho da companhia, foi objeto de acordo fechado em maio com o Ministério Público Federal, mediante formalização de um termo de compromisso de reparação de eventuais dados, que protege a Marfrig e seus executivos de quaisquer responsabilidade financeira e jurídica.
"Não se trata de um acordo de colaboração ou de delação e não há admissão de qualquer culpa por parte do empresário, que mantém suas atividades empresariais inalteradas", disse a Marfrig.
A J&F disse em nota à Reuters que o MPF "não ofereceu denúncia contra Joesley Batista em obediência ao acordo de colaboração firmado com a PGR e homologado pelo STF".
"Enquanto o Supremo não decidir sobre o pedido de rescisão requerido pela PGR, este acordo continua válido e vigente. Assim, nenhuma denúncia nesse interregno de tempo poderá ser oferecida contra o colaborador sob pena de o próprio MPF descumprir o acordo."
Já a Caixa afirmou que as informações são repassadas exclusivamente às autoridades policiais. O banco disse que "coopera integralmente com as investigações dos órgãos competentes".
A Bertin e o Grupo BR Vias e Oeste Sul não puderam ser contactados imediatamente.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro, com reportagem adicional de Flavia Bohone, em São Paulo)