Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Polícia Federal e o Ministério Público Federal deflagraram nesta quarta-feira nova fase da operação Lava Jato para ampliar as investigações sobre contratos de afretamento de navios fechados pela Petrobras em valores que ultrapassam 6 bilhões de reais, por suspeitas de corrupção e propina para favorecimento das empresas Maersk, Tide Maritime e Ferchem, disseram as autoridades.
De acordo com o MPF, a força-tarefa da Lava Jato investiga suspeita de pagamento de subornos de ao menos 3,4 milhões de dólares em razão de 11 contratos da Maersk com a Petrobras (SA:PETR4) com valores totais de 592 milhões de reais.
Também são objeto de investigação contratos de afretamento celebrados pela Petrobras com intermediação de Tide Maritime e Ferchem, que figuram em contratos com vigência para além de 2020 em valores globais superiores a 100 milhões de dólares.
No total, entre 2002 e 2012, a Maersk (CO:MAERSKb) e suas subsidiárias celebraram 69 contratos de afretamento com a Petrobras, no valor aproximado de 968 milhões de reais. Já a Tide Maritime figurou em 87 contratos de afretamento marítimo celebrados com a estatal, entre 2005 e 2018, totalizando cerca de 2,8 bilhões de reais, e a Ferchem intermediou ao menos 114 contratos de afretamento marítimo na Petrobras, num valor total superior a 2,7 bilhões de reais, entre 2005 e 2015, de acordo com o MPF.
"Há suspeitas de que algumas empresas teriam sido beneficiadas com informações privilegiadas acerca da programação de contratação de navios utilizados para transporte marítimo de petróleo e derivados da empresa, de forma que tiveram valiosa vantagem competitiva na captação dos negócios. Em contrapartida, há evidências de pagamentos de propina a empregados da empresa pública", disse a PF em nota.
De acordo com a Polícia Federal, são investigados empregados da Petrobras e pessoas e empresas que aparecem nos negócios firmados pela petroleira como brokers, que teriam corrompido funcionários da estatal para garantir negócios de fornecimento de transporte de produtos.
A Polícia Federal informou que foram expedidos pela Justiça 12 mandados de busca e apreensão, sendo 1 em São Paulo, 10 no Rio de Janeiro e 1 em Niterói (RJ), com o objetivo de colher evidências do envolvimento de empregados vinculados à Diretoria de Abastecimento e Logística e Gerência de Afretamentos da Petrobras com atos de corrupção e lavagem de dinheiro, além das outras empresas suspeitas de envolvimento.
A Petrobras afirmou, em nota oficial, que trabalha em colaboração com as autoridades que conduzem a Lava Jato, e é reconhecida pelo próprio Ministério Público Federal e pelo Supremo Tribunal Federal como vítima dos crimes desvendados.
"A companhia vem colaborando com as investigações desde 2014, e atua como coautora do Ministério Público Federal e da União em 18 ações de improbidade administrativa em andamento, além de ser assistente de acusação em 60 ações penais", disse a empresa, acrescentando que já recebeu mais de 4 bilhões de reais a título de ressarcimento.
A Tide Maritime informou à Reuters, por meio de representante, que não estava a par da operação e que a companhia está funcionando normalmente, sem dar mais detalhes. A Maersk, maior empresa de transporte marítimo do mundo, não pode comentar de imediato ao ser procurada pela Reuters, assim como a Ferchem.
O MPF informou que as investigações relacionadas a Maersk são derivadas da colaboração premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. "Foram reunidas evidências que o armador, por meio de uma empresa intermediária, efetuou pagamentos de propina ao então diretor de Abastecimento da Petrobras, tendo como contrapartida o fornecimento de informações privilegiadas", disseram os procuradores em nota.
Esta não é a primeira investigação da Lava Jato relacionada a esquemas de corrupção em afretamentos de navios pela Petrobras. Em julho deste ano, o MPF ofereceu denúncia por crimes de corrupção e lavagem de ativos relacionados a contratos de afretamentos celebrados pela Petrobras com os armadores gregos Athenian Sea Carriers, Tsakos Energy Navigation, Dorian (Hellas) e Aegean Shipping Management, com pagamentos já identificados de 17,6 milhões de dólares em propinas e comissões ilícitas.
(Reportagem adicional de Jake Spring, em Brasília, e Stine Jacobsen, em Copenhague)