Por Gabriela Mello
SÃO PAULO (Reuters) - A MRV (SA:MRVE3) não espera uma ruptura do programa habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV) no novo governo, mas já vem se empenhando para diversificar os negócios e desenvolver ferramentas para fomentar o mercado imobiliário, em antecipação a mudanças no comportamento do consumidor.
"Modificar radicalmente um programa exitoso como MCMV só se o cara for louco… Pode mudar o nome, algum parâmetro talvez, mas a chance de ruptura é muito pequena e somos a empresa mais protegida do mercado caso haja mudanças", afirmou nesta quinta-feira o copresidente da maior construtora de imóveis econômicos da América Latina, Rafael Menin.
Os comentários foram feitos em encontro com investidores e analistas no empreendimento Gran Reserva Paulista, o maior já lançado pela MRV, com 7.300 unidades e Valor Geral de Vendas (VGV) de quase 2 bilhões de reais. E o projeto terá continuidade agora que a construtora fechou recentemente contrato para lançar mais 11 mil unidades em localização próxima.
"Fechamos uma área para dar continuidade ao empreendimento”, contou o também copresidente da empresa, Eduardo Fisher, destacando o estágio avançado do licenciamento.
Em relação às estratégias para complementar os negócios, a MRV está criando startups dentro do grupo para desenvolver novas soluções para o mercado imobiliário, incluindo consórcio de imóveis e locação. "O consórcio é um modelo pouco difundido… Temos uma startup dentro da companhia olhando para essa modalidade com parcela parecida à do MCMV", contou Menin.
Outra startup interna é a Luggo, já em fase piloto em Belo Horizonte (MG), para aluguel de imóveis por meio de uma plataforma digital. "Nem todo mundo vai querer comprar um apartamento em cinco ou 10 anos", acrescentou Menin, ressaltando que o modelo desenvolvido tem baixo consumo de capital. De acordo com ele, a ideia é colocar os empreendimentos em fundos imobiliários no mercado de capitais. "Podemos ter ganho de arbitragem e na gestão de ativos performados", afirmou.
Os esforços para diversificação do negócio começaram no fim do ano passado, quando a MRV anunciou a retomada de projetos para médio padrão financiados por meio do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). "A ideia é ter 25 por cento do VGV em SBPE nos próximos anos, o que mitiga riscos em grande escala", contou Fischer.
Dentro do SBPE, o Santander Brasil (SA:SANB11) está lançando com a MRV um piloto para concessão de financiamento imobiliário ainda na planta, uma modalidade operada atualmente apenas pela Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil (SA:BBAS3).
"Seremos o primeiro banco privado a entrar nessa modalidade", contou o diretor de produtos de crédito e recuperações, Cassio Schmitt, citando apetite para montar uma carteira de 500 milhões a 1 bilhão de reais no primeiro ano.
A construtora espera encerrar 2018 com um crescimento de 25 por cento nos lançamentos de imóveis e de 20 por cento nas vendas em relação a 2017. "E tudo indica que vamos entrar em 2019 com o pé no acelerador", disse Fischer.
2019 EM DIANTE
Os executivos ressaltaram que a MRV elevou significativamente os desembolsos nos últimos anos para se preparar para o futuro, mas, conforme os investimentos se traduzem em ganhos de eficiência na operação, a tendência é reduzir as despesas com vendas, gerais e administrativas a partir do ano que vem.
"A forma como a companhia gere o negócio, com SG&A um pouco mais pesado, mas esse investimento vai se pagar com uma folga lá na frente", disse Menin.
A meta é reduzir essa linha do balanço, conhecida como SG&A, para 16,5 por cento da receita líquida em 2019, ante 17,7 por cento no acumulado deste ano até setembro, e vê chance de níveis abaixo de 15,5 por cento nos anos posteriores.
Menin também aproveitou o encontro com analistas para manifestar sua insatisfação com a atual precificação da ação da MRV. "Estamos extremamente incomodados com nossa ação a 12 reais e os menores múltiplos do setor. Custou caro entrar e atuar de forma madura em 157 cidades", desabafou.
Na avaliação dele, o desconto no preço do papel é exagerado. "Nos deixa chateados quando o mercado reconhece nosso trabalho, mas fica incerto sobre o que vem pela frente no novo governo", acrescentou, referindo-se às dúvidas sobre os planos da equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro para o MCMV e sobre a disponibilidade de recursos para financiamento imobiliário.
"O mercado está precificando como se tudo de errado acontecesse", continuou Menin, lembrando que o grupo segue convicto de que as escolhas feitas se mostrarão acertadas no médio prazo.
Por volta das 13:45, as ações da MRV subiam 0,25 por cento, a 11,99 reais, enquanto o Ibovespa caía 1,5 por cento, em sessão bastante negativa na bolsa paulista, pressionada pelo cenário negativo no mercado externo.
GALPÕES LOGÍSTICOS
A Log Commercial Properties, subsidiária da MRV com atuação em galpões logísticos e que está em processo de cisão, espera expandir seu portfólio para 2 milhões de metros quadrados até 2023, conforme o diretor de Relações com Investidores da companhia, Felipe Enck.
"Nosso portfólio deve atingir já 1 milhão de metros quadrados no próximo ano", afirmou o executivo, em encontro com investidores na capital paulista sobre a Área Bruta Locável (ABL) entregue.
Enck observou que a projeção leva em conta a expansão do comércio eletrônico no país, bem como a melhora do cenário macroeconômico e os ganhos de escala e eficiência operacional da Log. "O ecommerce vai mudar a forma como os produtos são consumidos… Existe uma migração do offline para o online”, comentou Enck.
A expansão do portfólio deve impulsionar a geração de fluxo de caixa da Log, com chance de superar 260 milhões de reais em 2023, afirmou o diretor.
A subsidiária de galpões logísticos está em processo de cisão da MRV e listagem de ações no Novo Mercado da bolsa paulista, o segmento de mais alta governança da B3. O conselho de administração da companhia se reúne em 12 de dezembro para deliberar sobre o movimento e a expectativa é de que os papéis estreiem na bolsa entre 18 de dezembro.