DUBAI (Reuters) - Mulheres estudantes em Teerã gritaram “caia fora” durante uma visita do presidente iraniano, Ebrahim Raisi, ao campus da universidade delas neste sábado. Raisi condenou manifestantes irritados com a morte de uma jovem que foi presa pela polícia do país, disseram ativistas.
O presidente iraniano discursou a professores e estudantes na Universidade Alzahra, em Teerã, recitando um poema que equiparou manifestantes “desordeiros” a moscas, no momento em que protestos no país entram na quarta semana.
“Eles imaginam que podem atingir seus objetivos malignos nas universidades”, informou a emissora de televisão estatal. “Sem que eles saibam, nossos estudantes e professores estão alertas e não permitirão que o inimigo atinja seus objetivos malignos.”
Um vídeo publicado no Twitter pelo site ativista 1500tasvir mostrou o que afirma serem estudantes mulheres gritando “caia fora Raisi” e “caia fora Mullahs”, enquanto o presidente visitava o campus.
O relato de um legista público do Irã negou que Mahsa Amini, 22 anos, morreu devido a golpes contra sua cabeça e membros enquanto estava sob custódia da polícia da moralidade e associou a morte dela a condições médicas pré-existentes, publicou a imprensa estatal na sexta-feira.
Amini, uma iraniana curda, foi presa em Teerã em 13 de setembro por usar “trajes impróprios” e morreu três dias depois de ser detida. A sua morte deu início a manifestações por todo o país, o maior desafio aos líderes clérigos do Irã em anos.
Mulheres retiraram seus véus em protesto ao establishment clerical, enquanto multidões furiosas pediram a queda do líder supremo aiatolá Ali Khamenei.
O governo descreveu os protestos como uma trama dos inimigos do Irã, incluindo os Estados Unidos, acusando dissidentes armados – entre outros – de violência, pela qual pelo menos 20 membros das forças de segurança teriam morrido.
Grupos de direitos humanos dizem que mais de 185 pessoas foram mortas, centenas ficaram feridas e milhares foram detidas pelas forças de segurança.
Após uma convocação para protestos em massa no sábado, forças de segurança atiraram contra manifestantes e usaram gás lacrimogêneo nas cidades curdas de Sanandaj e Saqez, segundo o grupo de direitos humanos iraniano Hengaw.
Em Sanandaj, capital da província do Curdistão, no noroeste, um homem morreu em seu carro, segundo o Hengaw, que disse que ele havia sido baleado pelas forças de segurança após buzinar em protesto.
Mas uma autoridade sênior da polícia repetiu a alegação das forças de segurança de que eles não usaram munição de verdade e que o homem foi morto por “contrarrevolucionários” (dissidentes armados), segundo a agência de notícias estatal IRNA.
Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostrou uma jovem inconsciente deitada no chão após ter sido aparentemente baleada na cidade de Mashhad, no nordeste. Manifestantes se reuniram em torno dela para ajudar.
O grupo Iran Human Rights, sediado na Noruega, disse em seu site que pelo menos 185 pessoas, incluindo pelo menos 19 crianças, foram mortas nos protestos. O maior número de mortes aconteceu na província Sistão-Baluchistão, com metade das mortes, afirmou.
PEDIDO POR UNIDADE
Após uma reunião semanal, o presidente iraniano e o chefe do judiciário do Irã e presidente do parlamento pediram unidade.
“Atualmente, a sociedade iraniana precisa de unidade em todos os seus estratos, independentemente de língua, religião ou etnia para superar a hostilidade e a divisão disseminadas por anti-iranianos”, disseram, segundo um comunicado publicado pela imprensa estatal.
Um vídeo nas redes sociais mostrou manifestantes em protesto na cidade de Babol, no norte, e várias publicações disseram que forças de segurança cercaram estudantes protestando em um campus de universidade.
O Hengaw também divulgou um vídeo de equipes de emergência tentando ressuscitar uma pessoa e afirmou que um manifestante morreu após ser baleado no abdômen por forças de segurança em Sanandaj. A Reuters não conseguiu verificar o vídeo.
Uma das escolas na praça de Saqez foi preenchida por garotas que gritavam “mulheres, vida, liberdade”, segundo o Hengaw.
A conta de Twitter 1500tasvir, com muitos seguidores, também relatou tiros contra manifestantes nas duas cidades curdas no noroeste.
Um estudante universitário que estava a caminho dos protestos em Teerã disse que não tinha medo de ser preso ou mesmo morto. "Eles podem nos matar, nos prender, mas não ficaremos mais calados. Nossos colegas estão na cadeia. Como podemos ficar calados?”, disse o estudante, que pediu para permanecer anônimo, à Reuters.
As agências de notícias semi-oficiais do Irã minimizaram os protestos na capital Teerã. A agência ISNA relatou manifestações “limitadas” em cerca de 10 regiões na cidade e disse que muitos comerciantes do Bazaar fecharam suas lojas por medo de danos causados pelos protestos, negando que houvesse uma greve.
A NetBlocks, organização que monitora a internet, afirmou que o acesso à rede foi cortado em Sanadaj novamente, em meio a protestos nas regiões curdas no noroeste. O grupo afirmou na sexta-feira que “a internet permanece regionalmente interrompida em #Zahedan, na província de Sistão e Baluchestão, #Irã, sete dias depois da piora da violência e assassinato de civis pelas forças de segurança”.