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Na contramão dos mercados, Warren Buffett investe em jornais

Publicado 02.03.2013, 06:00
Atualizado 02.03.2013, 06:14

Marc Arcas.

Washington, 2 mar (EFE).- O megainvestidor Warren Buffett, terceiro homem mais rico do mundo segundo a revista "Forbes", adquiriu há apenas alguns dias seu 28º jornal, continuando assim com sua aposta na imprensa escrita e seguindo o caminho inverso dos investidores convencionais.

Durante os últimos dois anos, Buffett adquiriu através da BH Media Group (uma subsidiária de seu grupo Berkshire Hathaway Inc.) vários jornais locais nos Estados Unidos, além dos 28 diários que possui e outros 42 jornais não diários, assim como revistas e publicações online.

A última aquisição de Buffett, conhecido como "o oráculo de Omaha" por causa de sua cidade natal e da sua visão como investidor, é o "Tulsa World", fundado em 1905 e o segundo jornal de maior tiragem no estado de Oklahoma, onde 90.000 cópias diárias são vendidas nos dias semanais e 130.000 nos domingos.

"Em cidades onde há um forte sentimento de comunidade, nenhuma instituição é mais importante que o jornal local", explicou Buffett no ano passado após a compra, por US$ 142 milhões (R$ 280 milhões), da divisão de jornais do grupo Media General, de grande importância no sul dos EUA.

O empenho de Buffett em investir em um setor duramente afetado pela irrupção das alternativas digitais e pela queda da publicidade não é um mistério para o diretor associado do Projeto para a Excelência do Jornalismo, Mark Jurkowitz.

"Certamente ainda há possibilidades de conseguir lucro dos jornais, e Warren Buffett, que é um investidor muito experiente, sabe disso", disse Jurkowitz à Agência Efe, que detalhou as duas tendências que segundo sua opinião explicariam "a forte aposta" do "oráculo de Omaha" na imprensa local.

"A primeira é de que o preço pelo qual um investidor consegue adquirir um jornal hoje é muito inferior ao de dez anos atrás, e, no entanto, os jornais continuam sendo vendidos. Portanto, se compra por bom preço, há muitas garantias de que, pelo menos, irá recuperar o investimento", disse Jurkowitz.

"A segunda, e por onde acho que vai a aposta de Buffett, é que nos pequenos e médios mercados - fora das grandes concentrações urbanas -, os jornais continuam e continuarão sendo o elemento fundamental para a geração de informações", acrescentou.

Para o especialista, embora "seja verdade que muitos jornais passam por grandes problemas econômicos", na maioria dos casos isso tem mais a ver com "a dívida adquirida durante anos" do que com a sua viabilidade econômica, já que muitos "seguem gerando lucro".

Buffett limitou seus investimentos a jornais pequenos ou médios, de tiragem local.

"Os jornais pequenos muitas vezes se encontram com uma situação de quase monopólio em suas comunidades e com maior flexibilidade para controlar os custos, tornando-os mais resistentes que os grandes, entre os quais existe uma concorrência feroz, e que geram custos gigantescos dos quais é muito difícil se desprender", explicou Jurkowitz.

O analista de mídia Ken Doctor também destacou a viabilidade da imprensa local.

"Buffett não investe para ganhar poder político, mas porque acredita em lucro a longo prazo. Está comprando muito barato e considera que pode tirar proveito", disse ele à Efe.

"Todos os jornais de Buffett aumentaram o preço da edição impressa e lançaram a taxa de acesso à internet", acrescentou.

"Eles fixam sua maior esperança nas receitas derivadas do acesso multiplataforma e, embora este seja um bom plano a três ou cinco anos. É preciso seguir com a reestruturação, reduzir custos estruturais e desenvolver uma oferta diversa e potente de produtos digitais", apontou Doctor.

Apesar de tudo, os dois analistas não descartam um certo "sentimentalismo" nas compras de Buffett, que deu seus primeiros passos empresariais distribuindo jornais em sua cidade natal e lê atualmente até cinco jornais por dia, segundo declarou o mesmo em várias ocasiões.

Buffett investe assim em um setor fortemente castigado por uma crise que nos EUA obriga a fechar anualmente entre 14 e 21 jornais, quase não lança novas publicações e passou de empregar 56.900 pessoas em 1989 a 41.600 em 2010, o que representa uma queda de 27% no número de profissionais contratados, segundo dados do Projeto para a Excelência em Jornalismo. EFE

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