Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Um das empresas líderes nas vendas de máquinas agrícolas e tratores na América do Sul, a New Holland, tem uma visão positiva sobre a demanda por seus produtos no mercado brasileiro até 2020, apesar de incertezas como a peste suína africana na China e a guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos contra a China.
A empresa, que integra um setor no Brasil ainda dependente de programas de financiamentos com apoio governamental, espera um crescimento nas vendas de 5% a 10% no próximo ano, após um "soluço" no primeiro semestre de 2019, disse à Reuters o vice-presidente da New Holland Agriculture para a América do Sul, Rafael Miotto, nesta terça-feira.
Depois de as vendas de máquinas agrícolas e tratores ficarem praticamente estáveis no país na primeira metade do ano, com a falta dos recursos de programas oficiais como o Moderfrota, após forte demanda dos agricultores, agora a empresa prevê aumento de 5% nas vendas no segundo semestre, com a regularização do fluxo de financiamentos na esteira do Plano Safra.
"Teve um soluço grande, com base na forte demanda, acabaram os recursos... Ficou claro que o sistema depende muito disso. Agora normalizou com o novo Plano Safra", disse Mioto, lembrando que não fosse o "soluço" as vendas poderiam crescer até 10% neste ano.
Para a safra 2019/20, o governo programou 9,69 bilhões de reais em recursos para o Moderfrota, o principal programa de investimentos, enquanto programas com os chamados fundos constitucionais têm estimativas de 6,2 bilhões de reais em financiamentos.
Os agricultores, contudo, poderiam estar mais animados para comprar colheitadeiras não fossem questões relacionadas à peste suína africana na China, que tem reduzido a demanda por soja, principal produto do Brasil, e preocupações com a guerra comercial sino-americana.
Custos maiores com a tabela de fretes mínimos rodoviários, que têm levado produtores a até mesmo investir em frotas próprias de caminhões, também deixam menos brilhante o cenário do um setor de máquinas.
"Com os custos e as incertezas de preços, isso não está deixando decolar as vendas de máquinas", comentou Miotto
Ele lembrou também que o preço no Brasil, diante das disputas comerciais entre EUA e China, está "descolando" do mercado internacional, uma vez que os prêmios nos portos sobre os contratos futuros de Chicago estão subindo quando as cotações caem no mercado de referência global.
Em 2018, a China realizou grandes compras de soja no Brasil, uma vez que os chineses impuseram tarifa sobre o produto dos Estados Unidos. Mais recentemente, houve um recrudescimento da disputa entre os dois países, sustentando os preços no país, que pode ser opção novamente aos chineses.
"Isso (preços mais firmes no Brasil) vai direto na veia do apetite por investimentos em equipamentos... mas a oscilação atrapalha", acrescentou ele, lembrando que agricultores também estão lidando com volatilidade no câmbio.
Diante disso, ele avalia que produtores terão bom apetite por compras de equipamentos, o que poderia resultar em nova falta de recursos para financiamentos em 2020.