Buenos Aires, 19 jun (EFE).- O anúncio da Argentina da impossibilidade de pagar a dívida reestruturada em Nova York no prazo estipulado, 30 de junho, aumentou os temores do mercado financeiro nesta quinta-feira de que o país caia em uma nova moratória.
O chefe de Gabinete do governo argentino, Jorge Capitanich, acusou hoje o juiz americano Thomas Griesa, de "parcialidade" e de querer "fulminar" a reestruturação da dívida que o país fez com a grande maioria dos credores depois da moratória de 2001.
Capitanich endureceu nas declarações um dia depois da Corte de Apelações dos Estados Unidos tornar sem efeito a medida cautelar que até ontem mantinha suspensa a execução de um pagamento milionário para fundos de investimento determinada por Griesa.
Hoje o chefe do Gabinete disse, em resposta a comentários do juiz americano, que "a vontade de pagamento da Argentina não pode ser posta em dúvida nem por Griesa nem por ninguém".
No entanto, o Ministério de Economia argentino advertiu na véspera que a decisão da Corte de Apelações "impede a Argentina de efetuar no próximo dia 30 de junho o pagamento dos cupons de dívida como definido com seus credores reestruturados exceto se, simultaneamente, pagar a totalidade do valor exigido pelos fundos abutres".
Os fundos "abutres", como o governo argentino chama os credores que não aceitaram as trocas de títulos da dívida pública, são 7% do total, e não aceitaram o enorme corte da dívida nominal.
A decisão tomada nesta quarta-feira pela Câmara de Apelações de Nova York na prática abre as portas para a execução da sentença ditada por Griesa em favor dos fundos litigantes, que obriga a Argentina a pagar US$ 1,3 bilhão mais juros, o que implicaria em um total de US$ 1,5 bilhão.
Este novo cenário complica ainda mais a situação da Argentina, que analisa as opções que sobraram para evitar cair em um "default" (moratória) técnico.
O juiz Griesa, que se reuniu nesta quarta-feira em Nova York com os advogados da Argentina, os convocou para um novo encontro semana que vem com os fundos de investimento litigantes, para que os representantes argentinos façam uma proposta para negociar o pagamento.
Capitanich disse hoje que, por enquanto, nenhuma delegação argentina viajará a Nova York para se reunir com o magistrado.
O chefe de Gabinete criticou as informações publicadas pela imprensa americana, que teria vazado comentários de Griesa após a reunião de quarta-feira, e disse que elas não contribuíram para suavizar o clima de tensão.
Segundo estas versões, além de expressar suas dúvidas sobre a capacidade de pagamento da Argentina, Griesa teria manifestado do seu mal-estar por um discurso da presidente argentina, Cristina Kirchner, no qual advertiu que uma coisa é ter vontade de negociação e outra estar submetido a uma "extorsão".
O chefe de Gabinete disse hoje que "se a justiça é equilíbrio, o juiz (Thomas) Griesa promove profundamente o desequilíbrio e isso não é justiça".
Além disso, para o governo, a eliminação da medida cautelar que evitava um embargo dos bens argentinos "promove um sistema onde os fundos abutre têm um incentivo para executar a medida e não negociar", ressaltou.
Esta decisão "confirma a verdadeira intencionalidade de fulminar" o processo de reestruturação da dívida argentina após a crise econômica de 2001, porque "altera todas as condições de reestruturação".
O litígio nos EUA transformou o tema da dívida em uma questão de Estado na Argentina e, com poucas exceções, os principais líderes políticos, e os que têm mais chances de suceder Cristina na Casa Rosada, concordam com a necessidade de "cerrar fileiras" com o governo na defesa dos interesses do país.
A Argentina arrasta há décadas um grave problema com a dívida pública, que disparou após a quebra econômica e social de 2001.
Em 2005 e 2010 o país conseguiu reestruturar sua dívida com trocas que alcançaram mais de 92% de adesão, com importantes reduções nos valores originais, embora parte do resto de credores tenha vendido seus títulos a fundos especulativos que agora reivindicam o pagamento integral.
Se insistirem nesta exigência, alega o governo argentino, o país se veria obrigado a pagar US$ 1,5 bilhão e se abriria as portas para processos que somariam até US$ 120 bilhões.
-rsd