Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A demanda por milho brasileiro nunca cresceu tanto no país, com as indústrias de carne aumentando o consumo do principal ingrediente da ração para aves e suínos, ao mesmo tempo em que o Brasil tem agora uma crescente produção de etanol a partir do cereal, disse o diretor-presidente da SLC Agrícola, uma das maiores companhias do setor no país, nesta quinta-feira.
"A demanda por milho no mundo é crescente e no Brasil está se fortalecendo, pelo etanol e pelas carnes também. Com a China importando mais todas as carnes, nunca a demanda cresceu tanto como cresceu agora... temos mercado interno e de exportação, por isso está em patamar de preço interessante (do milho)", disse Aurélio Pavinato.
Embaladas pela safra recorde, por câmbio e preços favoráveis, as exportações do Brasil deverão atingir um recorde de 39 milhões de toneladas em 2018/19, previu a Companhia Nacional de Abastecimento na véspera, enquanto projeta um aumento de 3,85 milhões de toneladas no consumo interno na temporada, para 63,9 milhões de toneladas.
Na nova safra (2019/20), embora veja uma redução na exportação do Brasil para 34 milhões de toneladas, a Conab projeta novo salto no consumo doméstico, para 68,1 milhões de toneladas.
A exportação está tão forte este ano que o Brasil está ameaçando o domínio dos Estados Unidos, conforme pontuou uma colunista da Reuters.
Além disso, com a China impulsionando as compras de carnes do Brasil enquanto o país asiático lida com menor oferta em função da peste suína africana, os preços do milho subiram mais de 5% neste mês, para mais de 44 reais por saca, segundo o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
"Alguns meses atrás o cenário de preços era negativo, isso se reverteu, isso nos coloca em patamares melhores de soja e milho... isso nos garante patamar adequado de margens", disse Pavinato, durante teleconferência dos resultados da empresa.
A produção de etanol de milho do centro-sul na nova safra aumentará quase 50%, para 1,8 bilhão de litros, com a ampliação da capacidade produtiva por meio da inauguração de novas destilarias, segundo estimativa da consultoria INTL FCStone.
Mesmo para a soja, cujos preços sofreram o impacto da menor demanda da China em função da peste suína africana, o valor está de volta a patamares adequados, disse o executivo.
Para ele, o "estrago" causado pela peste suína africana é grande para plantel suíno chinês, mas não tão grande para consumo de soja, na medida em que outros países estão processando mais a oleaginosa para produzir ração para atender ao mercado de carnes chinês.
O cenário de baixa da soja passou "muito rápido", disse ele, após o mercado ter sofrido pressão por alguns meses diante da epidemia da peste na China.
Ele lembrou que a safra de soja 2019/20 no mundo será menor, após os EUA terem sido afetados por problemas climáticos, o que reduzirá os estoques globais.
Após vários anos de superávit, o mercado de soja verá um déficit de pelo menos 13 milhões de toneladas, disse a SLC, citando dados do Departamento de Agricultura dos EUA.
(Por Roberto Samora)