O presidente do Bradesco (BVMF:BBDC4), Octavio de Lazari Júnior, não vê, a menos de um mês das eleições presidenciais, risco institucional para o País. "A democracia no Brasil é um patrimônio, está consolidada", diz. O executivo ainda afirma que, para atrair mais investimentos ao Brasil, é necessário que o vencedor se comprometa com alguns pilares: "Respeito aos contratos, disciplina fiscal, simplificação tributária, reduzir a desigualdade, criar uma melhoria da formação do trabalhador".
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Qual a importância do movimento com o BV para a estratégia do Bradesco?
O mercado mudou muito, principalmente nos últimos cinco anos. Começou a haver uma migração de clientes procurando alternativas de investimento. E aí surgiu gente competente, como a XP (BVMF:XPBR31), além dos agentes autônomos. Nesse contexto, surgiu a oportunidade de termos uma nova (asset), com produtos diferenciados e sócios sérios - a família Ermírio de Moraes e o Banco do Brasil (BVMF:BBAS3) -, e de comprarmos um controle (51%). Estrategistas de investimento e traders de qualidade, como a BV tem, não é fácil de ser achar no mercado.
No México, o mercado via o Bradesco como candidato a comprar o Banamex. Por que a escolha por avançar como banco digital?
Comprar uma operação do tamanho do Banamex custa caro, algo como US$ 8 bilhões. Por esse prisma, temos uma operação, a Bradescard México, que nasceu da compra do Ibi. Faz 12 anos que estamos lá, e são 3 milhões de cartões, R$ 3 bilhões em ativos. Hoje, você pode ter um banco sem construir um prédio, a partir do clique. Pareceu mais inteligente comprar uma sociedade financeira popular (a Ictineo). Já conhecemos o mercado mexicano e temos uma carteira de cartões estável e crescente, e que dá R$ 150 milhões em lucro ao ano. A partir dela, podemos operar todos os produtos que um banco pode operar. Nosso intuito nunca foi fazer varejo fora do Brasil, mas a oportunidade no México faz todo o sentido.
Entre fintechs e neobancos, o número de contas é maior do que o da população brasileira. Há uma consolidação a caminho?
Não só uma consolidação, mas uma depuração. Qualquer pessoa, mesmo as de baixa renda, tem cinco, seis cartões, porque é fácil. Ouvimos muitos (neobancos dizendo): tenho 70 milhões, 80 milhões de clientes. Mas quantos de fato operam com recorrência? 10% disso.
No início do ano, falava-se na desaceleração do crédito, mas ela parece ter sido adiada. Vai ficar para 2023?
O segundo semestre será razoavelmente bom, mas a tendência é de uma redução do crescimento. Achamos que vamos crescer ao redor de 14% este ano. Primeiro, por causa de uma base de comparação muito forte e, segundo, porque estamos enfrentando um problema de inadimplência. Com a inflação alta e a taxa de juros também, é natural que as pessoas tenham dificuldade de pagar dívidas, e que os bancos sejam mais restritivos.
Entre os indicadores incertos para 2023, qual definição seria mais importante?
Inflação e taxa de juros. Esses dois vão dar o tom para a música que vamos tocar.
O que mais entra na conta, além do cenário fiscal?
Não falaria em reforma tributária, mas em simplificação. Diminuir o número de impostos, reduzir a burocracia. A simplificação vai ser um grande negócio, além da consolidação da reforma trabalhista e da atração do investimento estrangeiro. Temos energia solar, eólica, saneamento básico, commodity. Tem muitos fatores, no Brasil, de atração de investimento.
O que falta para atrair mais?
Tranquilidade institucional. Respeito aos contratos, disciplina fiscal, simplificação tributária, reduzir a desigualdade, criar uma melhoria da formação do trabalhador. E, sobretudo, (seguir) a nossa vocação para commodity e de exportador de energia limpa.
Estabilidade inclui estabilidade política?
Também. Com as eleições, haverá uma continuidade ou um novo governo. A democracia no Brasil é um patrimônio, está consolidada.
Como vocês veem o processo eleitoral?
Pelo que vimos nas pesquisas, parece que o quadro político está mais ou menos desenhado. Acho que vai ser uma transição pacífica como das outras vezes. Não vejo nenhum risco para o País. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.