Money Times - Desde que entrou em recuperação judicial, em 20 de junho de 2016, a Oi (SA:OIBR3) nunca teve tão pouco dinheiro em caixa. Segundo o relatório do escritório de advocacia Arnold Wald, administrador judicial do processo, a Oi encerrou outubro com caixa financeiro líquido de R$ 2,6 bilhões.
No mês em que pediu a recuperação, há mais de três anos, o valor era bem maior: R$ 4,18 bilhões.
Somente em outubro, a companhia queimou R$ 456 milhões, 15 vezes mais que os R$ 30 milhões consumidos em setembro.
O resultado é ainda mais significativo, quando se considera que, em janeiro passado, a Oi recebeu uma injeção de capital de R$ 4 bilhões. Com isso, a empresa iniciou o ano com R$ 7,515 bilhões em caixa, dos quais restavam apenas 35% em outubro.
Dia a dia pesado
Segundo o relatório do administrador judicial, os principais desembolsos foram para manter as operações. Apenas o pagamento de fornecedores consumiu R$ 1,3 bilhão, um incremento de R$ 313 milhões sobre o mês anterior. O valor foi pressionado pelo maior pagamento intercompany de interconexão entre as empresas do grupo em recuperação judicial.
Outro item que pesou foi o aumento dos repasses para quitar comissões intercompany da Paggo Lojas, por vendas realizadas de serviços de telefonia fixa e móvel. Por último, aumentaram as despesas com aluguéis.
Investimentos acelerados
A Oi (SA:OIBR3) também acelerou o ritmo dos investimentos. Os R$ 881 milhões desembolsados em outubro são 49% maiores que setembro. Entre as empresas do grupo que se encontram em recuperação judicial, a Telemar respondeu por R$ 245 milhões, R$ 30 milhões a mais, em relação a setembro.
A companhia fornece serviços de telefonia fixa e de ligações de longa distância (nacionais e internacionais) na chamada região 1 da Anatel, composta pelos Estados do Norte (exceto Acre e Tocantins), e todos os Estados do Nordeste e Sudeste.
Já a Oi Móvel foi a companhia do grupo que mais elevou os investimentos: um salto de R$ 233 milhões sobre setembro, totalizando R$ 548 milhões no mês retrasado.
De acordo com a Arnold Wald, “o resultado do mês está dentro do plano estratégico de aceleração dos investimentos da companhia, principalmente em fibra ótica e de ampliação da rede móvel.”
Vai dar? E este é a grande dúvida de alguns analistas: com tão pouco dinheiro, e consumindo rápido o que tem, haverá tempo para escapar da falência?
Quem aposta numa reviravolta da Oi afirma que o caixa da companhia ganhará um grande fôlego com a venda da Unitel, operadora de telefonia de Angola, avaliada pela diretoria da empresa em R$ 4 bilhões – justamente o valor injetado pelos acionistas no caixa em janeiro.
No limite, alguns apostam na venda daquilo que é, hoje, o cartão de visitas da empresa, e uma fonte importante de caixa – a área de telefonia móvel.
O dinheiro permitiria que a Oi concluísse sua reestruturação, incluindo investimentos em fibra óptica, como os citados pelo administrador judicial. A Ágora, corretora do Bradesco (SA:BBDC4), é uma das casas que acredita que a operadora sairá da recuperação, tanto que seu preço-alvo para os papéis é de R$ 1,80 para 2020 – o praticamente o dobro da cotação dos últimos dias.
Os analistas mais cautelosos apontam uma série de percalços. O UBS, por exemplo, recentemente informou que seu preço-alvo para 2020 é de apenas 55 centavos por papel – menos do que o nível atual. Dois aspectos preocupam o banco suíço de investimentos.
O primeiro é a própria velocidade com que a empresa queima caixa. O banco lembrar que, apenas no terceiro trimestre, foram torrados R$ 1 bilhão.
O segundo é a disposição da Oi em apostar em estratégias que consomem ainda mais dinheiro, como a expansão da rede de fibras, e uma eventual (e desaconselhável) participação no leilão de frequências 5G, programado pelo governo para o ano que vem.
Visto em conjunto com os dados divulgados pelo administrador judicial, não se trata, propriamente, de um quadro animador.