Por Se Young Lee e Stephanie Nebehay
PEQUIM/GENEBRA (Reuters) - Governos estrangeiros retiraram seus cidadãos do epicentro do surto do coronavírus na China nesta quarta-feira, enquanto o número de mortos pela doença saltou para 133 e a Organização Mundial da Saúde (OMS) expressou "grave preocupação" sobre a contaminação de pessoa para pessoa em três outros países.
A OMS afirmou que seu Comitê de Emergência se reuniria novamente a portas fechadas na quinta-feira para decidir se a rápida propagação do novo vírus a partir da China constitui agora uma emergência global.
"Nos últimos dias o progresso do vírus, especialmente em alguns países, especialmente na transmissão de humano para humano, nos preocupa", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva em Genebra, citando Alemanha, Vietnã e Japão como os países que registraram transmissão de pessoa a pessoa.
"Embora os números fora da China ainda sejam relativamente pequenos, eles possuem o potencial para um surto muito maior."
Foram registrados 6.065 casos do vírus análogo ao da gripe em 15 países pelo mundo --todos, exceto cerca de 70, na China-- de acordo com os últimos números da OMS. Todas as mortes até agora aconteceram na China, onde a Comissão Nacional de Saúde informou 132 fatalidades até o final da terça-feira. Mais uma morte foi reportada na província de Sichuan na quarta-feira.
A situação permanece "sombria e complexa", disse o presidente chinês, Xi Jinping, que na terça-feira havia prometido derrotar o vírus "demoníaco". O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse ter falado com Xi e seu governo e que estava trabalhando de perto com a China para conter o surto.
Algumas grandes companhias aéreas suspenderam voos para a China, e um importante economista previu um grande impacto do surto do vírus no crescimento econômico do país.
O painel da OMS composto por 16 especialistas independentes recusou duas vezes na semana passada declarar a situação como emergência internacional, mas irá reavaliar a situação novamente na quinta-feira.
"Estamos em uma conjuntura importante neste episódio. Acreditamos que essas cadeias de transmissão ainda possam ser interrompidas", disse Mike Ryan, diretor-executivo do Programa de Emergências de Saúde da OMS.
Ryan também elogiou a resposta da China ao surto do coronavírus: "Estão tomando medidas extraordinárias diante de um desafio extraordinário".
Em muitas das cidades chinesas, as ruas estavam quase completamente desertas. Atrações turísticas estão fechadas e lojas da rede de cafés Starbucks exigiam que as pessoas medissem suas temperaturas e usassem máscaras.
"É a minha primeira viagem à Ásia, me sinto muito azarada", disse a turista brasileira Amanda Lee, de 23 anos, que estava encurtando sua viagem. "Eu não consegui ver os lugares que gostaria, como a Grande Muralha."
Quase todas as mortes até agora aconteceram na província central de Hubei, que abriga população de cerca de 60 milhões de pessoas e se encontra agora virtualmente isolada. O vírus surgiu no mês passado em um mercado de animais selvagens em Wuhan, capital da província.
(Reportagem de Cheng Leng em Xangai, Se Young Lee, Lusha Zhang, Gabriel Crossley, Tony Munroe, Huizhong W, Judy Hua, Nanlin Fang e Joyce Zhou em Pequim e Stephanie Nebehay e Emma Farge em Genebra; Reportagem adicional de Michelle Nichols na ONU; Matthias Blamont em Paris, Akira Tomoshige em Tóquio, Kate Kelland em Londres, Ben Blanchard em Taipei)