Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - Os criadores de animais brasileiros podem estar usando antibióticos em excesso, de acordo com um novo relatório da ONG World Animal Protection divulgado nesta quinta-feira e que cita resultados de testes de água feitos em rios próximos a criadouros no Sul do país.
As evidências, provenientes de amostras de água coletadas em 2021 e detalhadas pela primeira vez no Brasil, indicam que rios próximos a fazendas de suínos no Estado do Paraná tinham maior diversidade dos chamados genes de resistência antimicrobiana (ARGs, na sigla em inglês) em comparação com a água retirada das nascentes dos mesmos rios.
O Brasil é um importante fornecedor de carne bovina, de aves e suína nos mercados mundiais, exportando para dezenas de países e também à China, seu principal parceiro comercial.
No novo relatório, a World Animal Protection disse que testes de água semelhantes foram realizados nos Estados Unidos, Canadá, Espanha e Tailândia.
"As descobertas sugerem que as bactérias multirresistentes provenientes da criação de animais estão circulando pela cadeia alimentar, com implicações negativas para a saúde humana e para o meio ambiente", disse a ONG em comunicado enviado à Reuters.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa as indústrias de aves e suínos, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Os cientistas argumentam há décadas que o uso indevido ou excessivo de antibióticos por criadores de animais contribuiu para a disseminação global de superbactérias.
A Organização Mundial da Saúde afirma que "a resistência antimicrobiana é uma das dez principais ameaças globais à saúde pública que a humanidade enfrenta".
Estima-se que 75% da produção global de antibióticos seja usada por criadores de animais, incluindo frangos e porcos, disse a World Animal Protection.
Até 2050, 10 milhões de pessoas podem morrer a cada ano de infecções resistentes ao tratamento com antibióticos, contra 1,27 milhão atualmente, disse ONG.
Nos Estados Unidos, uma análise de cortes de carne suína vendidos em supermercados constatou que 80% das bactérias isoladas das amostras resistiam a pelo menos um tipo de antibiótico, segundo o relatório.