SÃO PAULO (Reuters) - O maior caso de pedido de recuperação judicial da história do Brasil está gerando impactos muito além das fronteiras do país atingido pela recessão, com a operadora Oi (SA:OIBR4) buscando proteção judicial contra credores de fornecedoras globais de telecomunicação e bancos de exportações do mundo todo.
A Oi está pedindo proteção em relação aos 500 milhões de reais em contas devidas a fornecedores internacionais, desde Nokia e Ericsson até IBM (NYSE:IBM) e Alcatel-Lucent (PA:ALUA), de acordo com documentos jurídicos vistos pela Reuters.
A maior operadora de telefonia fixa do Brasil também deve cerca de 1 bilhão de dólares para bancos de desenvolvimento na China, Finlândia, Canadá e Alemanha, que encorajaram exportações para o Brasil durante um recente aumento nas redes sem fio e de banda larga.
Embora estas dívidas sejam ofuscadas por mais de 17 bilhões de reais em empréstimos bancários e 34 bilhões de reais em títulos, elas podem criar dores de cabeça para provedores de equipamentos e serviços que já estão enfrentando dificuldades com a queda nos investimentos no país.
"O foco é manter a empresa operando. É isso que todos queremos", disse uma fonte próxima à empresa. "Obviamente você não quer afetar fornecedores, mas isto deve ser discutido no tribunal."
A Oi tem evitado fazer comentários públicos enquanto o juiz avalia a petição.
A empresa deveria ser o único grupo de telecomunicações no Brasil a aumentar seus investimentos este ano, disseram analistas do Credit Suisse Securities no mês passado, em uma nota que previa um fim ao recente ciclo de investimentos do setor, guiado pela tecnologia de quarta geração para aparelhos móveis.
A Oi investiu cerca de 1,2 bilhão de reais nos primeiros três meses do ano.
A questão que a Oi enfrenta agora é como pagar por equipamentos que já foram adquiridos, enquanto busca uma reorganização dentro do tribunal de 65,4 bilhões de reais em títulos, dívidas bancárias e responsabilidades operacionais.
A Oi não fez mudanças em seu plano de investimentos e agora está fazendo tudo o que pode para manter operações funcionando normalmente, disse a fonte, que pediu para não ser identificada devido ao andamento dos processos legais.
A lei de recuperação judicial brasileira permite que a Oi fique em dia com suas contas daqui para frente, mas congela todos os pagamentos ou serviços feitos antes do pedido apresentado na segunda-feira, enquanto credores negociam o pagamento das dívidas.
Sua maior dívida pendente com um fornecedor estrangeiro parece ser o débito de 129 milhões de reais para a subsidiária da finlandesa Nokia no Brasil, que em 2013 comprou a parte da parceira Siemens em sua venture de equipamentos de rede.
Os recebíveis da Nokia são mais que o dobro dos 53 milhões de reais devidos à chinesa Huawei Technologies.
Questionadas sobre possíveis provisões relacionadas à Oi, Nokia, IBM, Alcatel e Ericsson não quiseram comentar. A Huawei não respondeu as perguntas.
(Por Brad Haynes e Ana Mano; reportagem adicional por Gwénaëlle Barzic e Maya Nikolaeva)