Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente-executivo da Petrobras (SA:PETR4), Pedro Parente, pediu demissão na manhã desta sexta-feira, em meio a discussões sobre a política de preços da petroleira estatal iniciadas após uma greve de caminhoneiros contra a alta do diesel.
A saída, que vem após diversas negativas da Petrobras de que o executivo fosse deixar o cargo, surpreendeu o mercado e levou a bolsa paulista B3 a suspender a negociação de ações da estatal no início do pregão. Após a liberação, os papéis preferenciais caíam 17,4 por cento às 13h.
Em sua carta de demissão, dirigida ao presidente Michel Temer, Parente disse que movimentos na cotação do petróleo e no câmbio elevaram os preços de derivados, "magnificaram as distorções de tributação no setor" e levaram o governo a buscar alternativas, com a decisão de subsidiar o consumo de diesel.
"Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, sr. presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente", escreveu Parente.
"Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas", acrescentou.
Uma fonte da estatal, que pediu para não ser identificada, se disse surpresa com a renúnica de Parente.
"Talvez, alguma coisa que ele tenha dito, que era absolutamente fundamental, não tenha sido possível. E ele sempre falou que enquanto havia liberdade, independência, e a direção correta, ele ficaria", disse a fonte à Reuters.
"Agora o momento político foi realmente muito grave, essa situação toda, o país parou. Pode ser que ele esteja avaliando que isso seja um ato também de grandeza para facilitar que as coisas continuem a avançar", acrescentou a fonte.
A Petrobras informou que a nomeação de um presidente interino será examinada pelo Conselho de Administração ainda nesta sexta-feira e que a composição dos demais membros da diretoria executiva da companhia não sofrerá qualquer alteração. A fonte ouvida pela Reuters disse que a o conselho irá se reunir às 16h.
A renúncia de Parente ocorre diante de uma forte pressão sofrida com a paralisação de caminhoneiros contra os valores do diesel, que provocou um desabastecimento generalizado e afetou diversos setores da economia.
Diante da greve, que o governo disse na quinta-feira ter chegado ao fim após acordo com a categoria, a Petrobras concordou em reduzir a frequência dos reajustes do combustível por um determinado período, contando que a União pague pelos prejuízos causados à empresa.
Em um vídeo disseminado nas redes sociais por executivos da companhia nesta semana, Parente defendeu a frequência diária de reajustes dos combustíveis nas refinarias da Petrobras, dizendo que a medida era fundamental para que a empresa defendesse sua participação de mercado no Brasil.
A política de preços da Petrobras vinha sendo alvo de ataques de políticos e de sindicatos de trabalhadores da companhia.
Os petroleiros chegaram a realizar uma greve na quarta e quinta-feira contra as práticas de preços da Petrobras e contra a continuidade da gestão de Parente.
Nesta sexta-feira, o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, comemorou a saída do presidente da Petrobras como uma "vitória" da categoria e dos caminhoneiros.
"Pedro Parente, vaza!"..."Tchau, querido!", escreveu o sindicato em mensagens nas redes sociais.
Já a reação do mercado e de investidores é bem distinta, uma vez que Parente era amplamente visto como um executivo que vinha obtendo sucesso na recuperação da companhia após anos de perdas associadas a controle de preços e corrupção.
"O mercado, em geral, não acha a mínima graça. Desta vez o nível de preocupação é maior... como efeito indireto, o mau humor (do mercado em relação ao governo) vai dar uma piorada", disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Na carta de demissão, Parente disse ainda que não sofreu interferências políticas em seu período no comando da Petrobras e sugere que o presidente Temer deve se apoiar em regras corporativas da companhia e na contribuição do Conselho de Administração para nomear um novo presidente para a companhia.
(Por Marta Nogueira; reportagem adicional de Iuri Dantas)