Por Gabriel Araujo
SÃO PAULO (Reuters) - A próxima empresa a ser vendida pela Petrobras (SA:PETR4) em meio a seu plano de desinvestimentos será a subsidiária de distribuição de botijões de gás Liquigás, disse nesta quinta-feira o presidente da estatal, Roberto Castello Branco.
A petroleira, que detém 100% da Liquigás, abriu processo para se desfazer da companhia em abril. Antes, a Petrobras havia chegado a anunciar a venda da empresa para o Grupo Ultra, mas o negócio foi vetado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em fevereiro de 2018.
"A próxima (empresa) a deixar o Estado será a Liquigás, agora no mês de agosto... a Petrobras está vendendo 100% da Liquigás e deve receber as ofertas vinculantes finais no dia 7 de agosto", disse Castello Branco em cerimônia de oferta de ações da BR Distribuidora (SA:BRDT3) na bolsa paulista B3.
A Liquigás, que possui 20 milhões de clientes e cinco mil pontos de venda, teve receita de 5,6 bilhões de reais e lucro líquido de 147,5 milhões de reais em 2018.
Em junho, Castello Branco já havia indicado que a Petrobras deixaria o setor de transporte e distribuição de gás, destacando que aguardava os próximos passos da venda da Liquigás.
PRIVATIZAÇÃO DA BR
A operação realizada na noite de terça-feira envolvendo a BR Distribuidora, até então controlada pela Petrobras, foi o motivo da cerimônia nesta quinta-feira.
Nela, o CEO da petroleira confirmou que desde então a empresa já vendeu um lote extra de ações da distribuidora, reduzindo ainda mais sua parcela, para 37,5%, em operação que totaliza cerca de 9,6 bilhões de reais.
"Para a oferta-base e o 'greenshoe', a demanda foi quatro vezes superior à oferta. A operação foi um sucesso", disse Castello Branco, acrescentando que, como acionista, a Petrobras vai cobrar resultados da BR.
"Queremos uma empresa leve, ágil e de custos baixos."
Por sua vez, o presidente da BR Distribuidora, Rafael Grisolia, disse que a partir de agora o objetivo da empresa, que não tem mais o controle da estatal, é se tornar a mais rentável do setor, no qual já é a maior companhia no Brasil.
Para Grisolia, a gestão privada dá um "grau de eficiência" ao ativo em um mercado de competidores "sofisticados".
DESINVESTIMENTOS DA PETROBRAS
Roberto Castello Branco destacou os desinvestimentos já realizados pela Petrobras, afirmando que a empresa acumula no ano 15 bilhões de dólares em vendas de ativos, e prometeu que há "muito mais" por vir.
"Neste mês de julho completamos 15 bilhões de dólares em desinvestimentos, e vem muito mais", disse o executivo, classificando a primeira privatização brasileira via mercado de capitais como histórica, no que chamou de "verdadeiro capitalismo".
"Temos um amplo programa de desinvestimentos... Outros farão melhor que a Petrobras. Nós faremos nosso trabalho muito bem na exploração e produção de petróleo e gás."
Além de Liquigás e BR Distribuidora, a Petrobras já encaminhou neste ano, por exemplo, desinvestimentos em campos petrolíferos, refinarias e gasodutos, com vendas como a da Transportadora Associada de Gás (TAG) e dos campos de Pampo e Enchova.
ESTADO MENOR
Também presente ao evento, o secretário Especial de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, celebrou a privatização da BR Distribuidora, dizendo que o fato deve ser encarado como uma sinalização do governo de Jair Bolsonaro em direção à diminuição do Estado e ao foco no social.
"Nós estamos começando a fazer um novo modelo, em que a iniciativa privada deve ser protagonista do mundo dos negócios, e não mais o Estado-empresário", afirmou Mattar, acrescentando que o país sente os primeiros passos em direção a uma economia de livre mercado.
Para ele, a sociedade mudou e hoje conclama que certas organizações devam ser privatizadas, com o governo destinando seus recursos para a "qualidade de vida do cidadão".
Perguntado sobre quais seriam os próximos focos para privatizações do governo, o secretário preferiu não mencionar companhias específicas, mas disse que há uma série de empresas sendo preparadas para isso.
"As privatizações vão acontecer lenta e gradualmente, mas de forma constante", decretou, ponderando que as companhias que ficarão no Estado são as "estratégicas".
"O presidente (Jair Bolsonaro) possui uma forte intuição, e ele saberá, juntamente com o ministro (Paulo) Guedes, escolher aquelas empresas que deverão ser as primeiras a serem privatizadas", afirmou.