Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caía frente ao real nesta terça-feira, após a ata da última reunião do Copom revelar que o Banco Central avaliou ajuste mais intenso na taxa Selic do que a alta de 1,50 ponto percentual promovida na última quarta.
Às 11:06 (horário de Brasília), o dólar à vista recuava 0,76%, a 5,6370 reais na venda. Investidores atribuíam parte dessa desvalorização a movimento de realização de lucros após a moeda norte-americana subir 2,5% no acumulado das últimas três sessões.
Na ata do Copom, divulgada mais cedo nesta terça, o BC reafirmou que levará os juros a território que promova não apenas desinflação, mas também ancoragem das expectativas em torno das metas, e novamente chegou a fazer comparações entre cenários envolvendo ritmos de ajuste mais fortes e quadros em que a taxa de juros permanece elevada por período mais longo.
Participantes do mercado interpretaram o documento como mais duro em relação à inflação do que o comunicado de política monetária divulgado na semana passada, quando a autarquia fixou a Selic em 9,25% ao ano.
"Ninguém nos mercados discutia ajustes maiores (que 1,50 ponto percentual na taxa Selic), e sim menores", comentou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, citando preocupações de participantes do mercado com o impacto do atual ciclo de aumento de juros na atividade econômica do Brasil, que já tem dado sinais de vacilo.
Com o tom mais agressivo do Banco Central, as projeções para o patamar da taxa básica de juros ao fim do processo de aperto monetário devem aumentar disse Cruz. "Essa taxa no Focus abaixo de 12% não deve durar tanto."
O mais recente boletim semanal Focus do Bacen, divulgado na segunda-feira, projeta Selic de 11,50% ao fim de 2022.
Juros mais altos no Brasil são, em teoria, benéficos para o real, uma vez que tendem a atrair mais recursos para o país ao elevar a rentabilidade do mercado de renda fixa.
Mas investidores não descartavam riscos para a moeda brasileira, em meio a incertezas fiscais domésticas e à aproximação das eleições presidenciais de 2022.
Enquanto isso, no exterior, havia amplas expectativas de um Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) mais duro com a inflação em sua reunião de política monetária desta semana, o que poderia beneficiar o dólar globalmente.
A autoridade monetária norte-americana encerra seu encontro de dois dias na quarta-feira e deve acelerar o processo de redução de suas compras mensais de títulos e antecipar expectativas para aumentos de juros nos EUA.
O Banco Central voltará a fornecer liquidez aos mercados nesta sessão com a realização de leilão de venda conjugado com leilão de compra de moeda estrangeira no mercado interbancário de câmbio, no valor de até 1 bilhão de dólares.
Nos últimos dois pregões, a autarquia interveio nos mercados com venda de dólares à vista. "O BC está dando liquidez por uma questão sazonal, é comum aumentar a demanda por remessas no final do ano e ele tem essa visibilidade", disse à Reuters Alexandre Netto, chefe de câmbio da Acqua-Vero Investimentos.
Investidores estavam de olho ainda no pagamento de dividendos de ADRs (recibos de ações negociados nos EUA) pela Petrobras (SA:PETR4), que poderia explicar parte da valorização do dólar nas últimas sessões.
O dólar spot fechou o último pregão em alta de 1,09%, a 5,6747 reais na venda.