Por Christoph Steitz
FRANKFURT (Reuters) - O presidente-executivo da Volkswagen (ETR:VOWG) e o chefe dos trabalhadores da companhia na Alemanha entraram em conflito durante uma reunião de funcionários nesta quarta-feira, com a gerência pressionando por grandes cortes, enquanto os metalúrgicos alertaram sobre mais paralisações se o fechamento de fábricas no país continuar a fazer parte das negociações salariais.
A reunião de cerca de 20 mil trabalhadores na principal fábrica da Volkswagen em Wolfsburg também contou com a presença do Ministro do Trabalho alemão, Hubertus Heil. Os dois lados se reunirão para uma quarta rodada de negociações em 9 de dezembro.
A Volkswagen insiste que o fechamento de fábricas e os cortes salariais são necessários na Alemanha para responder à concorrência chinesa, mas os trabalhadores descrevem ambas as medidas como inaceitáveis e ameaçam novas paralisações após uma primeira rodada de protestos no início desta semana.
"Como gerência, não estamos operando em um mundo de fantasia. Estamos tomando decisões em um ambiente que muda rapidamente", disse o presidente-executivo do grupo Volkswagen, Oliver Blume, aos trabalhadores em Wolfsburg, alertando que novos concorrentes estão entrando no mercado com uma força sem precedentes.
O discurso do executivo foi interrompido repetidamente por vaias dos trabalhadores, de acordo com fontes presentes, inclusive quando ele mencionou que havia crescido na região e que Wolfsburg é muito querida por ele.
O setor automotivo europeu está em crise, com milhares de empregos em risco nas montadoras e seus fornecedores, todos sofrendo com o enfraquecimento do mercado no continente e com a adoção de veículos elétricos mais lenta do que o esperado.
"A pressão sobre os preços é imensa", disse Blume, acrescentando que a VW teve que tomar medidas para recuperar vendas na China, seu maior mercado individual e um contribuinte estável de lucros até recentemente, e que os custos de mão de obra na Alemanha são muito altos para a empresa ser competitiva.
"Portanto, precisamos urgentemente tomar medidas para garantir o futuro da Volkswagen. Nossos planos para isso estão sobre a mesa."
Daniela Cavallo, que lidera o conselho trabalhista da Volkswagen e é critica frequente de Blume por não ter se envolvido o suficiente no conflito, disse que todos os lados, incluindo a administração da montadora e os acionistas, têm que fazer sacrifícios para recuperar a companhia. Cavallo disse que os sindicatos continuam empenhados em tentar chegar a um acordo antes do Natal.
"Isso significará compromissos. Concessões também. Coisas de que não gostamos e que às vezes nos prejudicam de uma forma ou de outra. Mas isso tem que se aplicar a todos os lados", disse ela. "Caso contrário, não será um compromisso."
De acordo com fontes presentes na reunião, o ministro alemão do Trabalho, Heil, pediu a todos os lados que encontrem uma solução que exclua o fechamento de fábricas ou demissões em massa, garantindo investimentos futuros para apoiar o setor industrial alemão em dificuldades.
Os trabalhadores poderão aumentar a pressão se não houver um acordo durante as negociações da próxima semana, segundo sinalizaram os sindicalistas, levando a paralisações mais longas e, possivelmente, até mesmo a greves por tempo indeterminado.