Arena do Pavini - A turbulência dos mercados internacionais iniciada na semana passada e que se agravou ontem, com fortes quedas nas bolsas americanas e alta do dólar no Brasil, deve ter um impacto menor na economia brasileira do que há alguns anos, quando o país tinha maior dependência externa, afirma Cândido Bracher, presidente do Itaú Unibanco (SA:ITUB4), em entrevista para comentar os resultados do banco. “Um evento desses, de elevação súbita da taxa de juros no mundo, pode provocar reações no Brasil, pode provocar desvalorização de ativos, vai provocar uma certa elevação das taxas de juros para captação de empresas no exterior, mas não provoca nenhum efeito disruptivo em nossa economia”, diz.
Ele considera, porém, que as oscilações provocadas nos mercados podem influenciar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir os juros amanhã. “Eu creio que o Copom vai reduzir o juro em 0,25% ponto percentual amanhã, para 6,75%, mas não tenho certeza absoluta, os eventos de ontem talvez deem uma desencorajadinha nessa redução” afirma. “Mas acho que isso é possível e a dúvida que fica é se a queda dos juros para aí ou se vai ter mais um corte de 0,25 ponto 45 dias depois”, disse. O Itaú trabalha com mais um corte e juros Selic de 6,5% ao ano.
Juros sobem nos EUA, questão é quanto
Bracher diz que não tem dúvida que os juros vão subir nos Estados Unidos, com mais três ou quatro aumentos de 0,25 ponto percentual cada. “Estive recentemente em Davos e, em todas as conversas, a grande dúvida dos participantes de mercado, empresas, bancos, investidores, em relação se estamos vivendo uma bolha nos ativos internacionais ou não, era a perspectiva de elevação dos juros”, afirma. “A perspectiva que dá sustentação aos preços atuais dos ativos é de uma alta gradual dos juros e chegando a um nível que ainda será inferior ao dos juros anteriores da crise, em 2007, 2008”, explica. “As razões para duvidar disso é que o preço dos ativos vem subindo muito há um bom tempo e quando isso acontece é bom você parar e se perguntar se já não subiu demais”, diz.
Emprego maior e risco para a inflação
A segunda razão para duvidar desse cenário otimista para os juros, afirma Bracher, é que os Estados Unidos estão com um nível de desemprego abaixo de 5%. “E existe em economia uma correlação entre desemprego e inflação, a chamada Curva de Phillips, pela qual desemprego mais alto corresponde a inflação mais alta”, diz. Com desemprego mais baixo, o poder de barganha dos trabalhadores aumenta e há pressão para cima nos sala, e vice-versa. Mas, apesar da queda do desemprego nos EUA, a inflação não tem subido, observa Bracher. “Isso provoca a pergunta, entre bancos centrais e economistas, sobre o que aconteceu com a Curva de Philips”, diz. As explicações incluem teorias de que a inflação ficou menos sensível ao emprego, ou que a curva mudou e agora, com um mesmo nível de desemprego, se tem uma inflação menor, por conta dos avanços tecnológicos que reduzem a necessidade de mão de obra.
Na sexta-feira, lembra Bracher, veio a notícia de que os Estados Unidos criaram 200 mil empregos, mais que o esperado pelo mercado. E isso deflagrou um receio renovado de que agora a inflação vai subir. Mas isso ainda não aconteceu. “Ainda é cedo para dizer”, afirma Bracher, lembrando que o Dow Jones ontem caiu 4,6% e hoje chegou a subir. “A resposta é que não sei o que vai acontecer”, conclui.
Efeito limitado
Já o efeito sobre o Brasil deve ser limitado, afirma Bracher. “Em outros tempos, o impacto seria seríssimo”, diz. Ele lembra que, nos tempos em que o Brasil tinha uma dependência externa muito maior, com uma dívida externa grande, um déficit em contas correntes elevado, qualquer crise de liquidez e elevação dos juros nos mercados internacionais provocava reações violentíssimas no Brasil. A taxa de juros tinha de subir muito, o real se desvalorizava e a inflação subia.
Hoje a situação externa do Brasil é extremamente forte, destaca Bracher. O país teve um déficit de contas correntes no ano passado de menos 0,5% do PIB, o investimento direto estrangeiro foi US$ 80 bilhões ou 4% do PIB, as reservas são US$ 380 bilhões, “então não há nenhum receio hoje quando à solvência do país, com a capacidade do país em liquidar seus compromissos em moeda forte”, afirma.
Por Arena do Pavini