Por Yimou Lee
TAIPÉ (Reuters) - A principal fábrica Foxconn (TW:2354) na China voltada à produção de iPhones deve sofrer uma nova redução de embarques em novembro após protestos de trabalhadores nesta semana na unidade, disse nesta sexta-feira uma fonte com conhecimento direto do assunto. Milhares de funcionários da instalação se demitiram.
A maior fábrica de iPhones do mundo vinha enfrentando dificuldades diante de medidas de isolamento social contra Covid-19 que alimentaram descontentamento entre os trabalhadores e interromperam produção antes dos períodos críticos do Natal e do feriado do Ano Novo Lunar, em janeiro. Muitos trabalhadoresforam colocados em isolamento ou saíram da fábrica.
Após a escalada de insatisfação na quarta-feira, que viu os trabalhadores entrarem em conflito com pessoal de segurança, a Foxconn agora pode ver comprometida mais de 30% da produção de novembro da unidade ante expectativa de até 30%, quando as questões trabalhistas eclodiram no final outubro, disse a fonte.
A fábrica é a única que produz modelos premium do iPhone, o 14 Pro, e a fonte disse que é improvável que retomará produção total até o final deste mês.
"A agitação dos trabalhadores na fábrica da Foxconn na China pode pesar nas vendas de iPhone da Apple (NASDAQ:AAPL) em novembro", disse Victoria Scholar, chefe de investimento na Interactive Investor. Analistas começam a se questionar se a Apple terá capacidade de entregar produtos na quantidade pretendida para o período de compras de fim de ano dos consumidores.
As ações da Apple caíam cerca de 2% às 13h12 (horário de Brasília), enquanto o Nasdaq mostrava recuo de 0,3%.
A rede norte-americana de varejo de eletrônicos Best Buy disse esta semana que espera que iPhones de última geração vão faltar nas lojas neste final de ano. Analistas dizem que iPhones nas lojas da Apple nos Estados Unidos durante a Black Friday também mostravam volume menor que um ano antes, com a empresa demorando mais para reabastecer estoques, informou a Reuters esta semana.
Alguns novos funcionários contratados nas últimas semanas pela Foxconn afirmaram que foram enganados sobre a remuneração da fábrica e outros reclamaram ter que dividir dormitórios com colegas que testaram positivo para Covid.
A Foxconn se desculpou na quinta-feira por um "descuido técnico" relacionado ao erro de pagamento e depois ofereceu 10.000 iuans (1.400 dólares) para os trabalhadores que participaram de manifestações e pediram demissão.
A fonte disse que mais de 20 mil trabalhadores, a maioria novos contratados que ainda não trabalhava nas linhas de produção, pegou o dinheiro e foi embora. Vídeos publicados em mídias sociais da China nesta sexta-feira mostram multidões e longas filas de trabalhadores carregados de bagagem na fila dos ônibus.
A fábrica empregava mais de 200 mil funcionários antes do início dos problemas. A instalação tem dormitórios, restaurantes, quadras de basquete e um campo de futebol na área ocupada de 1,4 milhão de metros quadrados.
Outra fonte da Foxconn familiarizada com o assunto disse que alguns novos contratados deixaram o campus, mas não detalhou quantos. A fonte disse que as pessoas que estão deixando a fábrica não foram treinadas ou começaram a trabalhar e que as saídas delas não vai prejudicar ainda mais a produção atual.
"O incidente teve um grande impacto em nossa imagem pública, mas pouco em nossa capacidade (atual). Nossa capacidade atual não foi afetada", disse a fonte.
"Há um limite para o que as empresas podem fazer na prevenção da pandemia... Já faz um tempo que isso é um problema. Isto é um problema enfrentado por todos", disse a fonte, apontando para outros episódios de agitação dos trabalhadores desencadeada por restrições rígidas, incluindo revolta em outro fornecedor da Apple, a Quanta, em maio.