Por Ana Julia Mezzadri
Investing.com - Após um ano atribulado, sobretudo por causa da pandemia de Covid-19, a Órama traçou, em relatório distribuído nesta terça-feira (29), dois cenários para 2021: um, considerado mais provável, em que o mundo terá acesso a vacinas até o fim do primeiro trimestre do ano, e outro em que a pandemia perdura.
Retrospectiva
Antes do surto de Covid-19, o mundo parecia ter relativa certeza em relação às eleições presidenciais norte-americanas, em que esperava-se que Trump fosse reeleito; ao andamento das reformas no Brasil, que pareciam ter entrado no trilho em 2019; e o consequente retorno à responsabilidade fiscal.
A pandemia, no entanto, foi o principal motor por trás da frustração destas expectativas. No Brasil, o governo teve de gastar acima do previsto para auxiliar a população, afetada pelas medidas de bloqueio instauradas na tentativa de conter a disseminação do vírus.
Por causa desse pacote de auxílio, o déficit nominal do Brasil saltou para mais de 15% do PIB, e a relação dívida/PIB acelerou. Antes da pandemia, a projeção dívida/PIB para 2029 era de 72%. Agora, a previsão saltou para 98%.
Tudo isso, em consequência, afetou os preços dos ativos financeiros, fazendo com que os investidores estrangeiros rumassem para fora do país, também pela queda da Selic para mínimas históricas de 2%. Com isso, o dólar se valorizou perante o real, que chegou a perder mais de 40% de seu valor.
O Ibovespa seguiu esse movimento, despencando em março, junto das bolsas ao redor do mundo, e demorando para se recuperar. Um fenômeno se destacou: a forte entrada de pessoas físicas na bolsa de valores, superando a marca de três milhões, impulsionada pela queda das taxas de juros.
Além do cenário local, também nos EUA a pandemia foi a grande responsável por importantes quebras de expectativas: após uma gestão desastrosa da crise da Covid-19, Trump foi derrotado por Joe Biden nas eleições presidenciais.
Globalmente, o endividamento alcançou 270% do PIB, cifra mais alta de todos os tempos.
Cenário Referência
O cenário mais provável, que na perspectiva da Órama tem 80% de chance de se consolidar, é o em que o mundo terá amplo acesso a vacinas confiáveis até o fim do primeiro trimestre de 2021.
A vacinação em massa, na visão da Órama, traria um retorno à normalidade. Com isso, o PIB global pode se recuperar em formato de “V” (entre 5% e 5,5%) ou, na pior das hipóteses, de “símbolo da Nike” (entre 4% e 4,5%). Além da vacinação, esse cenário depende da ajuda do governo dos EUA à economia.
Esse cenário, segundo a corretora, deve favorecer os países emergentes. Assim, se o Brasil retomar a agenda de reformas e respeitar o Teto de Gastos, a Órama acredita que os ativos possam se beneficiar.
Em resumo, considerando que esse cenário ocorra a Órama projeta, para o fim de 2021, o Ibovespa entre 120 mil e 125 mil pontos; o dólar entre R$ 5 e R$ 5,3; a Selic em 3%; o IPCA entre 3,5% e 3,7%; o déficit primário 3,5% e 4%; e o PIB entre 3% e 3,5%.
Cenário Alternativo
Apesar de o outro cenário ser mais provável, a Órama projeta ainda um 2021 com continuação da pandemia, que tem, segundo a corretora, 20% de chance de ocorrer. Esse cenário prejudicaria a recuperação de economia e os bancos centrais precisarão conceder novas rodadas de estímulos.
Para os indicadores, a Órama espera o Ibovespa entre 80 mil e 85 mil pontos; o dólar entre R$ 6 e R$ 6,5; a Selic entre 3% e 4%; o IPCA entre 4,2% e 4,5%; o déficit primário entre 4,5% e 5%; e o PIB entre 1,5% e 2%.