Por Guy Faulconbridge e Elizabeth Piper e Gabriela Baczynska
BRUXELAS (Reuters) - O ministro sênior do Reino Unido, Michael Gove, avaliou as chances de alcançar um acordo comercial com a União Europeia (UE) em menos de 50% nesta quinta-feira, apresentando um tom pessimista a apenas duas semanas de o Reino Unido concluir sua saída do bloco econômico.
Sua previsão pessimista contrastou fortemente com os comentários do negociador-chefe da UE, sugerindo que havia um bom progresso. Ambos os lados estão tentando evitar um turbulento fim após quatro anos de difíceis negociações.
Aumentava o otimismo de que um acordo estava próximo para manter o comércio de mercadorias, que representa metade do comércio anual entre a UE e o Reino Unido, no valor de quase um trilhão de dólares ao todo, livre de tarifas e cotas após 31 de dezembro.
Mas ambos os lados dizem que há lacunas a serem preenchidas e não está claro se qualquer um dos dois faria mudanças o suficiente para abrir caminho para um avanço.
Fontes diplomáticas da UE disseram que os 27 países-membros receberão uma atualização na sexta-feira, embora tenham sugerido que qualquer decisão sobre o acordo provavelmente será no sábado.
A ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, disse que as negociações entraram no "túnel" - um jargão da UE para a fase final e sigilosa do tudo ou nada - e o negociador-chefe da UE, Michel Barnier, tuitou: "Bom progresso, mas os últimos obstáculos permanecem".
Mas Gove, que supervisionou a implementação de um acordo pelo divórcio anteriormente, disse a um comitê parlamentar: "Acho que, lamentavelmente, há mais chances de não conseguirmos um acordo".
Ele colocou a probabilidade em "menos de 50%", acrescentando que, se o parlamento britânico não tiver tempo de aprovar o acordo em lei até 31 de dezembro, "então o tempo se esgotou e nenhum acordo teria sido alcançado e nós estaremos em um mundo onde negociaremos nos termos da OMC (Organização Mundial do Comércio)".
O fracasso em alcançar um acordo sobre o comércio de bens enviaria ondas de choque nos mercados financeiros, prejudicaria as economias europeias, afetaria as fronteiras e interromperia as cadeias de abastecimento na Europa e outros.
Mas os operadores de câmbio pareciam ter uma visão otimista sobre as perspectivas de um acordo. Pouco depois de Gove falar, a libra esterlina estava abaixo das suas máximas, mas ainda subia cerca de 0,5%, a 1,3578, contra um dólar mais fraco.
'RETOMAR O CONTROLE'
O primeiro-ministro Boris Johnson, o rosto da campanha do referendo do Brexit em 2016, há muito diz que não irá aceitar um acordo que não respeite a soberania do Reino Unido depois de vencer uma eleição no ano passado com a promessa de "retomar o controle".
Gove disse que algumas das diferenças restantes vão "para o cerne do mandato (do governo)".
Um funcionário da UE que não quis se identificar afirmou que as divergências sobre a questão da pesca ainda não foram resolvidas, mas que intensas conversas sobre um caminho a se seguir em relação às cotas e a um período de transição estão em andamento.
Dois diplomatas da UE e uma autoridade do bloco disseram nesta quinta-feira que não esperam um novo acordo comercial com o Reino Unido até sexta-feira.