Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Um relatório independente sobre irregularidades na Caixa Econômica Federal recomendou investigar suposta atuação do atual presidente, Gilberto Occhi, para obter propina para políticos do PP e cita indícios de envolvimento do vice-presidente afastado Roberto Derziê no repasse de informações ao presidente Michel Temer e a Moreira Franco, hoje ministro.
O relatório, feito pelo escritório de advocacia Pinheiro Neto em caráter sigiloso a pedido do conselho de administração da Caixa, foi concluído em 20 de novembro passado e pretendia aprofundar internamente investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sobre quatro operações, "A Origem", "Cui Bono", "Sépsis" e "Patmos",
O documento serviu de base para que o Banco Central recomendasse à Caixa o afastamento de vice-presidentes da instituição. Após a revelação do documento nesta terça-feira, Temer determinou o afastamento de 4 dos 12 vices do banco para responder aos questionamentos do BC e do Ministério Público Federal.
A investigação interna recomendou a apuração sobre se Occhi teria atuado para obter recursos ilícitos a políticos do PP no período em que era vice-presidente de Governo na Caixa, entre setembro de 2013 e maio de 2014. Esse fato, segundo o documento, constou de declarações feitas pelo empresário e delator Lúcio Funaro em depoimento à Justiça Federal de Brasília.
O relatório também menciona que Roberto Derziê, vice-presidente de Governo do banco afastado nesta terça-feira por Temer, teria atuado para o presidente e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco.
"Foram encontrados documentos que podem indicar, pelo menos, o atendimento de pedidos ou o fornecimento de informações de operações em trâmite na CEF, por parte de Roberto Derziê de Sant'Anna, a Moreira Franco e a Michel e Temer", disse o texto, que não detalhou quais demandas estariam sendo atendidas.
Procurada, a Caixa disse que não vai se manifestar sobre o assunto. Uma fonte ligada a Gilberto Occhi afirmou que uma auditoria da consultoria Kroll, a pedido do Pinheiro Neto, não encontrou evidências em relação às declarações de Funaro de atuação para receber propina para o PP e lembrou que no acordo de delação premiada firmada pelo empresário não foram incluídos esses elementos para abertura de uma nova frente de apuração. Essa fonte disse que Occhi não tornou público essa informação para não causar mal estar a outros colegas da Caixa.
A assessoria de imprensa de Moreira Franco afirmou que o ministro não teve acesso ao documento e que ele não conhece e nem tem qualquer ligação pessoal com Roberto Derziê. Por fim, informou que desconhece a informação atribuída a Derziê.
A Secretaria de Comunicação da Presidência disse que não comentará o assunto.
(Com reportagem adicional de Aluísio Alves, em São Paulo, e Lisandra Paraguassu, em Brasília)