Por Yuka Obayashi e Emily Chow e Ron Bousso
TÓQUIO/LONDRES (Reuters) - O presidente russo Vladimir Putin aumentou as apostas em uma guerra econômica com o Ocidente e seus aliados ao publicar um decreto para que a Rússia assuma o controle total do projeto de gás e petróleo Sakhalin-2 no extremo leste do país, um movimento que pode forçar a saída da Shell (NYSE:SHEL) e de investidores japoneses.
A ordem, assinada na quinta-feira, cria uma nova empresa para assumir todos os direitos e obrigações da Sakhalin Energy Investment Co, da qual a Shell e duas tradings japonesas Mitsui e Mitsubishi detêm pouco menos de 50%.
O decreto de cinco páginas, que vem após as sanções ocidentais impostas a Moscou por sua invasão da Ucrânia, indica que agora o Kremlin decidirá se os parceiros estrangeiros podem ficar no projeto.
A estatal Gazprom já tem uma participação de 50% mais uma ação no Sakhalin-2, que responde por cerca de 4% da produção mundial de gás natural liquefeito (GNL).
A medida ameaça desestabilizar um mercado de GNL já apertado, embora Moscou tenha dito que não vê motivo para a interrupção das entregas do Sakhalin-2.
O Japão importa 10% de seu GNL da Rússia por ano, principalmente sob contrato de longo prazo do Sakhalin-2. A ação também aumenta os riscos enfrentados pelas empresas ocidentais que ainda permanecem na Rússia.
"O decreto da Rússia expropria efetivamente as participações estrangeiras na Sakhalin Energy Investment Company, marcando uma nova escalada nas tensões em curso", disse Lucy Cullen, analista da consultoria Wood Mackenzie.
A Shell, que já registrou baixa contábil de seus ativos russos, deixou claro meses atrás que pretendia sair do Sakhalin-2 e está conversando com potenciais compradores. A companhia disse nesta sexta-feira que estava avaliando o decreto russo.
Fontes disseram que a Shell acredita que há um risco de a Rússia nacionalizar ativos controlados por estrangeiros, enquanto Putin disse repetidamente que Moscou faria retaliações contra os Estados Unidos e seus aliados pelo congelamento de ativos russos e outras sanções.
O Sakhalin-2, no qual a Shell tem uma participação de 27,5% menos uma ação, é um dos maiores projetos de GNL do mundo, com produção de 12 milhões de toneladas. Suas cargas vão principalmente para Japão, Coreia do Sul, China, Índia e outros países asiáticos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia não vê motivos para interromper as entregas de GNL do Sakhalin-2 e disse que o futuro de outros projetos ou investimentos será determinado caso a caso.
"Não pode haver regra geral aqui", disse ele.
O Japão, que depende fortemente de energia importada, disse que não abriria mão de sua participação no Sakhalin-2, no qual a Mitsui tem 12,5% de participação e a Mitsubishi tem 10%.
(Por Yuka Obayashi, Sakura Murakami, Ju-min Park, Kiyoshi Takenaka em Tóquio, Ron Bousso em Londres, Emily Chow em Kuala Lumpur, Muyu Xu em Cingapura)