RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero, descartou nesta sexta-feira renunciar ao cargo devido ao escândalo de corrupção envolvendo dirigentes da Fifa, que resultou na prisão de seu antecessor e vice-presidente afastado da confederação, José Maria Marin.
Em entrevista coletiva na sede da entidade no Rio de Janeiro, o dirigente disse que decidiu deixar o Congresso da Fifa, realizado em Zurique esta semana, e voltar ao país na quinta-feira para prestar os esclarecimentos que forem necessários às autoridades.
Del Nero, que assumiu a presidência da CBF em abril, negou envolvimento em quaisquer das irregularidades investigadas por autoridades norte-americanas.
"Resolvi partir da Suíça para o Rio de Janeiro, na sede da CBF, para poder de forma positiva, de forma correta, dar as explicações necessárias. Não só às autoridades, mas também à imprensa do nosso Brasil", disse o dirigente a repórteres.
Perguntado se cogitava deixar o cargo devido às denúncias, uma vez que foi vice-presidente de Marin na CBF antes de assumir o comando da confederação, Del Nero garantiu que vai permanecer.
"Renúncia não existe comigo, porque não há nenhuma razão para renunciar", afirmou. Del Nero garantiu ainda que não assinou nenhum contrato durante a administração de Marin e disse não ter qualquer ligação com o suposto esquema de corrupção.
Del Nero se enquadra na descrição de dois co-conspiradores não identificados citados no documento apresentado pela Justiça dos EUA, ambos apontados como "dirigentes de alto escalão" na CBF, Fifa e Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).
Ele disse que não é um dos co-conspiradores citados nas investigações documento que, segundo os promotores norte-americanos, receberam pagamento de propina em contratos de marketing e direitos de transmissão.
Segundo Del Nero, a CBF decidiu analisar todos os contratos que possui com empresas diante das suspeitas levantadas pela prisão de Marin. Na quinta-feira, a confederação entregou ao Ministério Público Federal, no Rio de Janeiro, os acordos firmados pela entidade em gestões anteriores.
"A diretoria concluiu e eu apoio que temos que analisar todos os contratos. Não podemos dizer que os contratos são ruins ou péssimos, mas, à medida que há suspeita, temos que avaliar e analisar", afirmou.
Marin, que presidiu a CBF de 2012 a abril deste ano e foi o presidente do comitê organizador local da Copa do Mundo de 2014, está entre sete dirigentes da Fifa presos em Zurique na quarta-feira, como parte de uma operação de autoridades dos EUA e da Suíça contra a corrupção no esporte.
Segundo as autoridades norte-americanas, nove dirigentes de futebol e cinco executivos de marketing esportivo são acusados de corrupção envolvendo mais de 150 milhões de dólares em subornos.
No caso do Brasil, as investigações realizadas pelos EUA incluem, por exemplo, contrato de patrocínio da seleção brasileira com uma empresa norte-americana de artigos esportivos e a negociação dos direitos comerciais da competição de clubes Copa do Brasil, de acordo com o Departamento de Justiça dos EUA.
A CBF suspendeu Marin do cargo de um dos vice-presidentes, após decisão da Fifa de afastar os presos de todas as atividades relacionadas ao futebol, e também removeu o nome "Sede José Maria Marin" da fachada de seu edifício no Rio.
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier e Pedro Fonseca)