SÃO PAULO (Reuters) - A companhia de saneamento e abastecimento do Estado de São Paulo, Sabesp (SA:SBSP3), passou a incluir a partir desta sexta-feira a segunda cota do chamado volume morto no cálculo do nível de água restante no sistema de represas Cantareira, o mais importante do Estado.
Até a véspera, o nível das represas que abastecem cerca de 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, além de cidades do interior paulista, era de 3 por cento, patamar que se referia apenas à primeira cota do volume morto, já que a reserva regular de água se esgotou em meados de julho.
O volume morto, ou reserva técnica na terminologia da Sabesp, refere-se à água que está mais no fundo das represas e que ficou abaixo do nível de captação das comportas, tendo que ser bombeada dos reservatórios para chegar às estações de tratamento.
Com a segunda cota do volume morto, o nível do Cantareira passou a 13,6 por cento nesta sexta-feira. Enquanto isso, o Sistema Alto Tietê, de onde a Sabesp também tem retirado água para ajudar no fornecimento do Cantareira, estava em 8 por cento. O Sistema Guarapiranga, outra importante fonte de água para a capital paulista, mostrava nível de 41,5 por cento.
A Sabesp recebeu autorização para captar o segundo volume morto em meados deste mês, em meio a uma disputa com a Justiça e a Agência Nacional de Águas (ANA), que em julho resolveu prorrogar para o fim de outubro de 2015 a outorga na gestão do Sistema Cantareira à Sabesp.
O Estado de São Paulo enfrenta em 2014 a pior crise hídrica dos últimos 80 anos, ano eleitoral em que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi reeleito em primeiro turno. Temperaturas mais altas que a média do início do ano aliadas a chuvas fracas durante o período úmido não recuperaram as represas para a temporada seca, quando a pluviosidade é significativamente menor.
Apesar disso, a Sabesp, controlada pelo governo paulista, tem optado por mecanismos como captação de água de outros sistemas, descontos na conta de consumidores que economizam água e investimentos em campanhas de conscientização.
A empresa tem oficialmente sustentado desde o início do ano que racionamento de água na região metropolitana por meio de rodízio entre bairros traz riscos sanitários à população e à segurança de suas redes de tubulações.[nL2N0S31FH]
No interior do Estado, enquanto isso, várias cidades estão há meses racionando água.
Nesta sexta-feira, reportagem do jornal Folha de S.Paulo traz áudio da presidente da Sabesp, Dilma Pena, afirmando que "orientação superior" impediu a companhia de divulgar mais intensamente a necessidade de economia de água pela população.
"Isso tinha que estar reiteradamente na mídia, mas nós temos que seguir orientação. Nós temos superiores. A orientação tem sido essa. Mas é um erro (...)", segundo a gravação publicada pelo jornal, que afirma se tratar de uma reunião "de cúpula" da Sabesp.
Procurada, a Sabesp afirmou em nota que o "objetivo da reunião operacional foi de ampliar ao máximo as ações de comunicação para o uso racional da água junto aos funcionários da companhia". A empresa disse ainda que sua comunicação é feita de forma autônoma e que as decisões "ocorrem no âmbito da companhia".
Segundo a empresa, "naquele momento a diretiva era diminuir ao máximo a dependência do Sistema Cantareira. O contexto era de convencer, de forma contundente, os gerentes operacionais da companhia da necessidade de redução". A Sabesp finaliza a nota comentando que a estratégia de redução da dependência "deu certo", baixando a dependência do abastecimento de 9 milhões para 6,5 milhões de pessoas.
O governo do Estado de São Paulo não se manifestou de imediato.
(Por Alberto Alerigi Jr.; Edição de Cesar Bianconi)