Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A multinacional Syngenta está começando sua campanha de "barter" para a safra 2024/25 do Brasil com crédito disponível de 1 bilhão de dólares, e aposta na oferta de "cashback" para vender mais pesticidas aos agricultores, dando aos clientes a possibilidade de participar de ganhos na alta dos preços das commodities.
No "Barter+" da Syngenta, o produtor poderá travar o preço da soja, café, algodão e milho na negociação de "troca" pelo insumo agrícola, participando de uma eventual alta do valor da commodity até o fechamento do contrato.
O instrumento deve dar um impulso adicional nas negociações de soja e de milho, que estão mais lentas pois os produtores brasileiros adotam cautela devido aos preços baixos. Eles poderiam ser atraídos pela ferramenta de olho no chamado "mercado climático" para a safra dos Estados Unidos, que costuma gerar volatilidade na bolsa de Chicago, e eventuais ganhos nas cotações.
"O produtor pode exercer, por exemplo, a opção do preço da soja acima do que travou conosco. O volume de soja a ser entregue não muda, ele vai entregar a safra futura, mas a diferença (no caso de alta de preço) é retornada ao produtor via cashback", explicou o diretor de Culturas e Campanhas da Syngenta Proteção de Cultivos, Henrique Franco.
"Ou seja, ele tem um mínimo garantido (com a trava de preço) e uma participação na alta de preço ilimitada", destacou Franco, em entrevista à Reuters, antecipando um anúncio que será feito nos próximos dias.
Caso isso aconteça, a diferença em relação ao valor travado inicialmente será retornada ao produtor via "cashback", possibilitando novas compras ou abatimentos em outras contas que o produtor tem com a Syngenta.
A expectativa é de que as operações de "barter" da Syngenta, comprada pela ChemChina em 2017, supere na temporada 2024/25 os volumes de negócios registrados no ano anterior, que somaram cerca de 850 milhões de dólares, disse Franco.
O executivo afirmou que a Syngenta vem buscando inovar nas operações de "barter", após ter dado a opção ao produtor no ano passado de fazer troca de insumos por produtos da colheita anterior, e não da futura, como é o mais comum nesses acordos. Ambas modalidades continuam disponíveis.
Mas é a ferramenta Barter+, principal inovação da campanha "Barter em Campo" 2024/25, que concentra grande parte da aposta da Syngenta e deve atrair até 80% do total dos negócios previstos para a temporada cujo plantio de grãos começa em setembro.
"Existe demanda para contribuirmos com a rentabilidade do nosso cliente, que está com a rentabilidade mais apertada. O preço das commodities caiu muito, e existe uma oportunidade, a Syngenta foca muito na relação com o cliente, quer entender a realidade dele, e o busca oferecer algo que possa resolver o problema dele", comentou.
Segundo o executivo, essa estratégia tem se revertido em ganhos consecutivos de participação no mercado, nos últimos sete anos. Na safra passada, disse ele, a empresa seguiu ganhando "market share". Franco não detalhou a fatia da companhia nas vendas do setor no país.
NUTRADE
Para realizar as negociações de "barter", a Syngenta tem uma vantagem comparativa de contar com uma trading própria, a Nutrade, que comercializa os grãos, café e algodão recebidos dos produtores.
Criada há mais de 15 anos, a Nutrade tem objetivo principal de apoiar os negócios de agroquímicos da Syngenta. Mas foi na temporada passada que a trading registrou um salto nos volumes negociados de soja, passando de 240 mil toneladas em 2022 para 1,1 milhão de toneladas em 2023.
O crescimento dos recursos disponíveis para realizar os acordos de "barter" deve resultar em um aumento no total comercializado na campanha 2024/25, disse o diretor da Syngenta. Ele não detalhou volumes.
Na temporada anterior, a Nutrade negociou ainda quase meio milhão de sacas de 60 kg de café, versus 400 mil sacas em 2022, além de 60 mil toneladas de algodão e 120 mil toneladas de milho.
Grande parte do volume negociado tem como destino a China, lembrou o executivo, citando que a Syngenta tem capital chinês, o que ajuda nos negócios com o país asiático, gigante na importação de alimentos.
(Por Roberto Samora)