O resultado do Comitê de Política Monetária (Copom) na noite de quarta-feira ditou a dinâmica do mercado de juros ao longo desta quinta-feira, 3, embora na segunda etapa o ambiente externo negativo tenha tido certo protagonismo, além de uma preocupação maior do mercado com a inflação futura após os sinais do colegiado. As taxas curtas tiveram recuo de até 20 pontos-base, refletindo o ajuste ao corte da Selic de 50 pontos-base, para 13,25%, o placar apertado de votação e a sinalização do comunicado para os próximos passos da política monetária.
A ponta longa oscilou perto da estabilidade até meados da tarde, quando então passou a subir acompanhando a tensão da curva americana e piora na percepção de risco inflacionário. Numa sessão de volume explosivo, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,480% (máxima), de 12,636% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 cedeu de 10,66% para 10,50%. O DI para janeiro de 2027 subiu a 10,13%, de 10,08%, e a do DI para janeiro de 2029 projetava 10,61%, de 10,45%.
As taxas curtas recuaram refletindo tanto a correção das apostas de redução de 25 pontos-base precificadas na quarta-feira na curva como aumento da expectativa de aceleração do ritmo de queda para 75 pontos nas próximas reuniões, dado que o Copom já indicou a intenção de repetir a dose de 50.
À tarde, o mercado ficou mais conservador, em parte pela influência externa, com a curva dos Treasuries piorando, e ainda alguma releitura das indicações do Copom. "O mercado passou a se preocupar com a possibilidade de o BC estar flertando com níveis de inflação maiores no futuro, pois parece estar tomando mais risco", disse um trader.
Relatório da área de Tesouraria do Banco Santander (BVMF:SANB11) que circulou pelas mesas durante o dia indicava surpresa com o voto decisivo de Roberto Campos Neto, num momento em que ala técnica que defendeu corte de 25 pontos visando dar suporte à ancoragem das expectativas e estabilidade ao câmbio. "De agora em diante, o cenário mudou com o BC mais propenso a tomar riscos", afirma o texto, destacando que a nova composição do colegiado para 2024 indica que o alvo da inflação será entre 4% e 4,5%. No fim de 2023, dois diretores considerados que votaram pelo corte de 25 pontos, Fernanda Guardado e Mauricio Moura, deixarão a instituição.
O estrategista de renda fixa da BGC Liquidez, Daniel Leal, viu a reação do mercado nesta quinta como natural diante do desfecho do Copom, mas a abertura da ponta longa surpreendeu. "Começou a abrir quando saiu a portaria do leilão, e, além disso, lá fora hoje está muito feio", afirmou, lembrando que a taxa da T-Note de dez anos chegou a 4,19% esta tarde.
A analista de renda fixa da XP Investimentos (BVMF:XPBR31), Mayara Rodrigues, destaca que a ata do Copom, que sai na terça-feira, 8, será importante para entender melhor os motivos que levaram o colegiado a decidir pelo corte de 50 pontos. "O mercado espera argumentos técnicos para eliminar as dúvidas sobre influências políticas e entender o raciocínio. E também se as portas ficarão abertas para uma aceleração do ritmo", afirmou.