Os juros futuros fecharam a segunda-feira em baixa, reduzindo o pessimismo com o cenário fiscal. O principal vetor foi a PEC alternativa à da Transição apresentada pelo senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), com valor menor de despesa a ser retirado da regra do teto de gastos para abrir caminho aos programas sociais do novo governo eleito. O mercado também recolheu um pouco das apostas mais agressivas para a Selic, mas continua precificando aumento para a taxa ao longo do primeiro semestre de 2023.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 14,26% (regular) e 14,25% (estendida), de 14,337% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 recuou de 13,71% para 13,54% (regular) e 13,53% (estendida). O DI para janeiro de 2027 cedeu 21 pontos-base, de 13,46% para 13,25% (regular e estendida).
Após o mercado reagir mal tanto à PEC da Transição quanto às declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, de que "a bolsa cai e o dólar sobe não por causa das pessoas sérias mas sim dos especuladores", parece agora haver uma tentativa de aparar as arestas de parte a parte, em busca de um consenso.
Como destacou o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, no podcast Diário Econômico, "para além da retórica e dos jogos de cena para a torcida", o governo parece estar disposto a "refazer a ponte com o mercado e com a racionalidade econômica".
Em contraponto à proposta original que indica gastos de R$ 198 bilhões a serem contabilizados fora do teto e sem período determinado, Vieira propôs limitar a R$ 70 bilhões o valor extrateto por um prazo de quatro anos, apelidada de "PEC Alternativa". Porém, para o ex-ministro Nelson Barbosa, que integra a área de economia na equipe de transição, R$ 70 bilhões seriam insuficientes para que o governo consiga trabalhar no orçamento do próximo ano.
Segundo ele, mesmo se o governo aumentar o gasto em R$ 136 bilhões em 2023, ainda não haveria expansão fiscal em proporção do Produto Interno Bruto (PIB).
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) também apresentou outra proposta, mas sugerindo aumento em R$ 80 bilhões de forma permanente do limite do teto partir de 2023, batizada por ele mesmo de "PEC da Sustentabilidade Social".
"O mercado melhorou com a PEC alternativa. Sabe-se que o tamanho do Estado vai aumentar, mas resta agora aguardar em que proporção", resumiu o head da Mesa de Juros da CM Capital, Jefferson Lima, lembrando que, porém, a reversão das posições mais defensivas montadas nos últimos dias depende, em boa medida, da definição do valor que ficará livre das amarras da regra. "O aumento em si é dado, mas, na dúvida, o mercado mantém apostas de alta da Selic", comentou.
Em cálculos fornecidos pelo Banco Mizuho (NYSE:MFG), a curva aponta apostas entre 25 e 50 pontos nas próximas reuniões do Copom até maio, com início dos cortes somente no segundo semestre. No fim de 2023, projeta taxa básica de 13,94%, ante 14,18% na sexta-feira.