Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - Sob olhar atento do Banco Central, o dólar fechou em alta nesta segunda-feira, mas anulou no segundo semestre todo o avanço que havia acumulado nos seis meses anteriores e voltou a acomodar-se dentro da banda informal de 2,20 a 2,25 reais.
E na avaliação de analistas, a moeda norte-americana não deve escapar desse intervalo, pelo menos no curto prazo, com o BC dosando as rolagens de swaps cambiais para evitar impactos do câmbio sobre a inflação ou a balança comercial.
A divisa dos Estados Unidos avançou 0,67 por cento, a 2,2100 reais na venda. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 1,5 bilhão de dólares.
Com isso, acumulou queda de 1,37 por cento no mês e 2,62 por cento no trimestre. No semestre, recuou 6,26 por cento, interrompendo cinco altas semestrais consecutivas e apagando completamente o avanço registrado entre julho e dezembro do ano passado, justamente quando o BC começou a atuar no câmbio com frequência diária.
"O BC vai continuar conduzindo o dólar em sintonia fina", afirmou o diretor de gestão e recursos da corretora Ativa, Arnaldo Curvello.
A moeda norte-americana vem oscilando aproximadamente dentro dessa banda informal desde o início de abril. A interpretação do mercado é que a autoridade monetária quer que continue nesses patamares, que não seriam inflacionários nem diminuiriam os preços de importados a ponto de prejudicar as exportações.
Para tanto, os especialistas acreditam que o BC deve adequar rolagens dos swaps cambiais, que equivalem à venda futura de dólares, às condições do mercado.
Segundo eles, a visão de que o aumento de juros nos EUA, que poderia atrair recursos atualmente aplicados no Brasil, não deve vir tão cedo, permite que as intervenções do BC sejam menos intensas num primeiro momento. Mas as incertezas reservadas para o segundo semestre, como as eleições no Brasil, podem exigir rolagens integrais.
"O BC tem uma flexibilidade grande para escolher como atuar, dentro dos limites do programa atual", afirmou o ex-secretário do Tesouro e economista-chefe do banco J. Safra, Carlos Kawall, que acredita que o BC será capaz de domar a volatilidade do dólar sem fazer nenhuma alteração no programa de atuações diárias.
A autoridade monetária já anunciou que estenderá suas intervenções diárias para pelo menos o fim deste ano, mantendo a oferta de 4 mil swaps.
O BC deixou vencer neste mês cerca de 15 por cento do lote total de swaps que expira na quarta-feira e equivale a 10,060 bilhões de dólares. Nesta sessão, não realizou leilão de swaps para rolagem, o que contribuiu para a alta da moeda norte-americana. Em 1º de agosto, vencem 9,457 bilhões de dólares em swaps.
A estratégia contrasta com a postura inicial da autoridade monetária, que rolou integralmente todos os lotes de swap que venceram entre setembro e março, à exceção do lote de novembro. A partir de então, passou a fazer rolagens parciais e menores, entre 75 e 50 por cento do total a vencer, dosando as injeções de liquidez mês a mês.
No início de junho, expectativas de que a autoridade monetária poderia reduzir suas atuações no câmbio levaram a moeda norte-americana a superar o teto informal de 2,25 reais. O BC reagiu com aumento da oferta de swaps em cada leilão para rolagem e o dólar assentou-se novamente entre 2,20 e 2,25 reais.
O dólar voltou a testar novos patamares nas duas últimas sessões, em meio à briga pela formação da Ptax de junho, taxa calculada pelo BC que serve de referência para diversos contratos cambiais. No fim do mês, investidores costumam disputar para deslocar a taxa para patamares favoráveis a suas posições cambiais.
"O dólar já deveria ter corrigido essa queda exagerada, mas a Ptax hoje está segurando abaixo dos 2,20 reais", afirmou pela manhã superintendente de câmbio da corretora Advanced, Reginaldo Siaca.
Após a formação da taxa --que fechou a 2,2019 reais para compra e 2,2025 reais para venda-- o dólar retomou a trajetória de alta, chegando a 2,2150 reais na máxima do dia.
Pela manhã, a autoridade monetária vendeu a oferta total de até 4 mil swaps nas rações diárias, com volume equivalente a 198,7 milhões de dólares. Foram 1 mil contratos para 1º de junho e 3 mil para 2 de fevereiro de 2015.
O BC também realizou oferta de até 3,5 bilhões de dólares com compromisso de recompra em 2 de dezembro de 2014, mas não aceitou propostas na operação.
No exterior, o dólar recuou à mínima em oito semanas contra uma cesta de moedas, com investidores adotando postura cautelosa antes da divulgação de uma série de indicadores econômicos norte-americanos nesta semana.
(Por Bruno Federowski)