RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Vale (BVMF:VALE3) poderá registrar provisões extras de cerca de 3,5 bilhões de dólares relacionadas às atividades de reparação pelo rompimento de barragem da mineradora Samarco, em Mariana (MG), segundo cálculos do Itaú BBA, em relatório enviado a clientes nesta quinta-feira.
O rompimento de barragem da Samarco -- joint venture da Vale com o grupo BHP -- ocorreu em novembro de 2015, mas até hoje mineradoras e autoridades federais e estaduais não conseguiram entrar em um consenso para um acordo definitivo de reparação, o que ajuda a explicar a necessidade de provisão extra.
A previsão ocorre após a BHP, sócia da Vale na Samarco, ter reportado que aumentará suas provisões e enquanto ações contra as companhias continuam a tramitar na Justiça.
Procurada, a Vale não respondeu imediatamente a pedidos de comentários.
No mês passado, a Justiça brasileira decidiu em primeira instância condenar as companhias a pagar 47,6 bilhões de reais por danos morais coletivos pelo caso.
A BHP reportou que aumentará sua provisão para o rompimento da barragem da Samarco em 3,2 bilhões de dólares (depois de impostos) em seu relatório de resultados do quarto trimestre, que será publicado em 20 de fevereiro. O movimento elevará o montante total das provisões da BHP para 6,5 bilhões de dólares.
"De acordo com nossos cálculos, a Vale precisaria fazer um adicional de cerca de 3,5-3,6 bilhões de dólares em provisões para igualar os 6,5 bilhões de dólares que a BHP reportará para o ano de 2023", disse o relatório do Itaú BBA.
"Observamos que as potenciais provisões adicionais representam aproximadamente 6% do valor de mercado e, portanto, significativas do ponto de vista da avaliação."
Os resultados trimestrais da Vale estão previstos para serem publicados em 22 de fevereiro.
O relatório do Itaú BBA ponderou, no entanto, que a provisão adicional não deverá ser uma surpresa para os investidores, que já aguardam um movimento neste sentido, embora existam ainda dúvidas importantes no mercado sobre o valor total a ser desembolsado pelas empresas pelo desastre.
O rompimento na cidade mineira de Mariana liberou uma onda gigante de lama que deixou 19 mortos e centenas de desabrigados, além de atingir o importante rio Doce, em toda a sua extensão, até o mar do Espírito Santo.
Negociações que visam um acordo definitivo para reparação de danos por Mariana eram esperadas para este mês. Enquanto isso, a Justiça Federal decidiu no mês passado em primeira instância condenar a Samarco e suas donas ao pagamento de 47,6 bilhões de reais por danos morais coletivos pelo caso.
Outras diversas ações seguem correndo na Justiça, incluindo questões referentes a danos ao meio ambiente, danos econômicos para municípios, Estados e União, questões individuais relacionadas a atingidos, dentre outras.
Atualmente, em suas ações de reparação e compensação, as empresas seguem um termo fechado em 2016, que não fixou um volume de recursos global a ser empenhado e deixou para frente diversas etapas a serem cumpridas, sendo alvo de críticas por diversas partes.
A partir do termo foi criada a Fundação Renova (BVMF:RNEW11), que gere as reparações, tanto coletivas como individuais, cujo escopo são 42 programas que se desdobram em muitos projetos que estão sendo implementados nos 670 quilômetros de área impactada.
Até dezembro passado, tinham sido destinados 34,7 bilhões de reais às ações de reparação e compensação a cargo da Renova, informou a Vale anteriormente.
O Itaú BBA notou que ainda há dúvidas sobre quais serão o escopo e o custo dos programas em execução, potenciais resultados de recursos e acordos e sobre a capacidade da Samarco de financiar diretamente as obrigações.
(Por Marta Nogueira)