RIO DE JANEIRO (Reuters) - A mineradora Vale acredita que as agências de classificação de risco já fizeram ajustes necessários da nota da companhia, incluindo a redução de preços das commodities, e não espera novas revisões nos próximos dois anos, afirmou o diretor financeiro, Luciano Siani, em teleconferência com analistas para comentar os resultados do quarto trimestre de 2014.
A queda do Ebitda, importante indicador da geração de caixa, em função dos menores preços de commodities, vai aumentar nos próximos anos a alavancagem medida pela dívida bruta sobre Ebitda para níveis aceitos pelas agências, estimados em torno de 3,5 vezes, acrescentou Siani.
"As agências de rating entendem que esse é um patamar confortável, como elas enxergam o desempenho da companhia através do ciclo, entendem que é um aumento de alavancagem no indicador, e não da dívida bruta, razoável", afirmou.
"Nós não temos nenhuma expectativa, não só de perder investment grade, como de nenhum downgrade", afirmou.
Ele ponderou, no entanto, que a dívida bruta, que deve se manter estável nos próximos dois anos, terá que ser reduzida na medida em que a geração de caixa aumentar a partir de 2017.
RECUPERAÇÃO DO MERCADO
A Vale acredita em uma melhora no mercado de minério de ferro, com saída de produtores de alto custo da atividade, disse o diretor-executivo de ferrosos da companhia, Peter Popping.
Para 2015, a empresa considera a saída de 42 milhões de toneladas de minério do comércio internacional, além da saída de até 30 milhões de toneladas de produção de concentrado de minério de ferro chinês.
Entretanto, Popping deixou claro que a Vale está considerando números conservadores.
"Tem aí mais de 60 milhões de toneladas praticamente fechando as portas, dos quais estamos assumindo 42 milhões. Mas na verdade mesmo, nas condições de preços atuais, 150 milhões de toneladas no mundo afora não são mais competitivas", afirmou.
A produção de concentrado chinês deve cair para 210 milhões de toneladas em 2015, ante 240 milhões em 2014, segundo Popping.
A Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, tem um dos menores custos de produção do mundo e espera se beneficiar da saída de produtores menos competitivos.
O preço do minério na China, maior importador global da matéria-prima, está oscilando perto do menor nível desde 2009, com um aumento da oferta de grandes mineradoras e um crescimento menos intenso da demanda no gigante asiático. Somente em 2014 os preços caíram pela metade.
Nesta quinta-feira, segundo o Steel Index, o valor do minério na China estava em 62,50 dólares por tonelada.
DESINVESTIMENTOS
Para enfrentar o cenário difícil de mercado, a companhia deverá acentuar iniciativas de redução de custos em 2015, ao mesmo tempo em que vai acelerar programas de desinvestimentos e de parcerias neste ano, afirmou o presidente da companhia, Murilo Ferreira, também na teleconferência.
A empresa registrou prejuízo líquido de 4,761 bilhões de reais no quarto trimestre de 2014, com o preço do minério de ferro despencando no mercado internacional, perdas cambiais, em derivativos e baixas contábeis de ativos.
(Por Marta Nogueira e Stephen Eisenhammer)