Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O reajuste dos preços da gasolina e do diesel nas refinarias da Petrobras (SA:PETR4), que valem a partir desta quarta-feira, deverá retrair ainda mais a fraca demanda por combustíveis no Brasil em 2015, após anos de forte crescimento bem acima da inflação, na avaliação de especialistas ouvidos pela Reuters.
A Petrobras elevou os preços da gasolina em 6 por cento e os do diesel em 4 por cento, segundo anúncio feito na noite de terça-feira. O impacto na bomba deverá ser mais sentido para os consumidores de gasolina, cuja alta é projetada pela Fundação Getúlio Vargas em torno de 4 por cento.
O reajuste ocorre num momento de queda nas vendas totais de combustíveis no Brasil, de 0,3 por cento no acumulado do ano até agosto, com o consumo do diesel e da gasolina caindo mais, segundo os últimos dados publicados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
"O mercado (de combustíveis) já está caindo, é possível que se retraia um pouco mais... O consumidor é sempre reativo ao aumento de preços", afirmou à Reuters o superintendente de Abastecimento da ANP, Aurélio Amaral.
Entretanto, o impacto na demanda dos combustíveis como um todo poderá ser atenuado pela migração dos consumidores da gasolina para o etanol, que vem apresentando forte crescimento da competitividade e nas vendas neste ano, segundo Amaral e o sindicado das distribuidoras de combustíveis (Sindicom).
"Não acredito que a alta dos preços terá um impacto muito grande na demanda por combustíveis do ciclo Otto (que inclui gasolina e etanol)", afirmou o diretor de mercado do Sindicom, César Guimarães. O Sindicom representa aproximadamente 80 por cento do mercado de combustíveis no Brasil.
As vendas de todos os combustíveis neste ano estão sendo fortemente sustentadas pelo desempenho do etanol hidratado, que registrou aumento das vendas de 48,2 por cento em agosto ante o mesmo mês de 2014 e acumula avanço de 41,4 por cento nos primeiros oito meses deste ano ante o mesmo período de 2014.
Com isso, as vendas de gasolina C (vendida nos postos de combustíveis já com a adição de etanol anidro) caíram 11,2 por cento em agosto em relação ao mesmo mês do ano passado e já acumulam recuo de 5,9 por cento nos primeiros oito meses do ano.
Atualmente, segundo o Sindicom, o etanol tem um preço vantajoso em relação à gasolina em seis Estados brasileiros, que juntos representam mais de 80 por cento das vendas do biocombustível do país. Os Estados são Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo.
Questionado se as distribuidoras poderão repassar menos o reajuste e reduzir suas margens para tentar ganhar mercado, Guimarães afirmou que é cedo para avaliar.
"Não vamos fazer cálculos sobre o impacto do reajuste no mercado porque isso irá depender do comportamento de cada distribuidora", afirmou Guimarães, evitando dar a sua opinião sobre qual será a estratégia individual das companhias.
Já as vendas de diesel, no acumulado dos oito primeiros meses do ano, caíram 3,3 por cento ante o mesmo período do ano passado. Em agosto, as vendas do produto caíram 6,3 por cento ante o mesmo mês do ano anterior.
Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires, o governo não está preocupado se o consumo está caindo.
"Está preocupado com a Petrobras, cada vez que aumenta o câmbio, é mortal (para a empresa)... 'Vou aumentar para gerar receita com esse consumo que está aí'", disse Pires, lembrando que o governo penalizou muito a Petrobras nos últimos anos, com o controle de preços de combustíveis para evitar inflação, causando perdas desde 2010 de mais de 60 bilhões de reais.