Por Victoria Waldersee e Christina Amann
BERLIM (Reuters) - A Volkswagen (ETR:VOWG) está considerando fechar fábricas na Alemanha pela primeira vez, em um movimento que mostra a crescente pressão de rivais asiáticos sobre a maior montadora de veículos da Europa.
O plano divulgado nesta segunda-feira marca o primeiro grande confronto entre o presidente-executivo da Volkswagen, Oliver Blume, que os analistas descrevem como um construtor de consensos mais do que seu antecessor Herbert Diess, e os sindicatos que exercem grande influência sobre o grupo alemão.
A VW considera obsoleta uma grande fábrica de veículos e uma fábrica de componentes na Alemanha, disse o conselho de trabalhadores, que prometeu "resistência feroz" aos planos da diretoria executiva da companhia.
O diretor financeiro, Arno Antlitz, falará aos funcionários ao lado do chefe da marca Volkswagen, Thomas Schaefer, em uma reunião do conselho de trabalhadores na manhã de quarta-feira.
Daniela Cavallo, chefe do conselho de trabalhadores da Volkswagen, membro do poderoso sindicato IG Metall, disse que espera que Blume também se envolva nas negociações, acrescentando que a reunião de quarta-feira será "muito desconfortável" para a administração do grupo.
O IG Metall frustrou tentativas anteriores de mudanças mais profundas na companhia, mais recentemente em 2022, quando Diess deixou o cargo de presidente-executivo.
No passado, os analistas apontaram as unidades da VW em Osnabrueck, na Baixa Saxônia, e em Dresden, na Saxônia, como alvos potenciais para fechamento. O Estado da Baixa Saxônia é o segundo maior acionista da Volkswagen e, nesta segunda-feira, apoiou os planos de revisão de ativos da companhia.
A Volkswagen, que emprega cerca de 680 mil funcionários, disse que também se sentiu forçada a encerrar seu programa de segurança do emprego, que está em vigor desde 1994 e impede cortes de pessoal até 2029, acrescentando que todas as medidas serão discutidas com seu conselho de trabalhadores.
O IG Metall afirma que a segurança no emprego abrange as fábricas da Volkswagen em Wolfsburg, Hanover, Braunschweig, Salzgitter, Kassel e Emden.
"A situação é extremamente tensa e não pode ser superada por simples medidas de corte de custos", disse Schaefer em um comunicado.
A VW, que é responsável pela maior parte das vendas unitárias da Volkswagen, é a primeira de suas marcas a passar por um processo de corte de custos com o objetivo de economizar 10 bilhões de euros até 2026, enquanto tenta racionalizar os gastos para sobreviver à transição para os carros elétricos.
"CHAMADA PARA DESPERTAR"
Um ambiente econômico difícil, novos rivais na Europa e a queda da competitividade da economia alemã significam que a Volkswagen precisa fazer mais, disse Blume à sua diretoria.
A Volkswagen, cujas ações fecharam em alta de 1,2% após a notícia, perdeu quase um terço de seu valor nos últimos cinco anos, o que a torna a empresa de pior desempenho entre as principais montadoras europeias de veículos.
A companhia enfrenta desafios na Europa, nos Estados Unidos e, especialmente, na China, onde montadoras locais, lideradas pela BYD (SZ:002594), estão avançando sobre sua participação de mercado.
Carsten Brzeski, chefe global de macro do ING Research, disse que o anúncio desta segunda-feira destaca as consequências de anos de estagnação econômica e mudanças estruturais sem crescimento.
"Se um peso-pesado industrial como esse tiver que fechar fábricas, pode ser o sinal de alerta, há muito esperado, de que as medidas de política econômica (da Alemanha) precisam ser consideravelmente intensificadas."
O IG Metall disse que a decisão "abala os alicerces" da Volkswagen, que é o maior empregador industrial da Alemanha e a maior montadora da Europa em termos de receita.
Cavallo disse em uma entrevista na intranet da Volkswagen que a administração da empresa havia tomado "muitas decisões erradas" nos últimos anos, inclusive não investindo em híbridos ou sendo mais rápida no desenvolvimento de carros elétricos a preços acessíveis.
Em vez de fechar fábricas, a diretoria deveria estar reduzindo a complexidade e aproveitando as sinergias entre os planos do grupo Volkswagen, disse Cavallo.