Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A Volkswagen Financial Services, maior instituição financeira ligada a montadora no país, pode passar 2016 sem captar recursos no mercado e deve concentrar os financiamentos no Brasil a clientes que pagarem uma entrada maior na compra de veículos.
"Essa é uma tendência que veio crescendo nos últimos dois anos e que vamos intensificar em 2016", afirmou o diretor-executivo e financeiro da instituição, Rafael Vieira Teixeira, em entrevista à Reuters.
Em dezembro, Volkswagen Financial Services, que tem sob o guarda-chuva o Banco Volkswagen e os negócios de consórcios e de seguros do grupo, captou 1 bilhão de reais por meio de uma securitização de recebíveis.
Em 2012 e 2013, a instituição vinha captando 1 bilhão de reais com esse instrumento por ano. Em 2014, quando o mercado automotivo brasileiro deu sinais mais claros de desaceleração, a Volkswagen Financial se limitou à captação com CDBs e com 500 milhões de reais de letras financeiras.
Segundo Teixeira, os recursos levantados no ano passado, 1,5 bilhão de reais, mais os CDBs, dão suporte às necessidades previstas para 2016. Se necessário, a companhia pode buscar mais recursos neste ano por mais letras financeiras. O plano do banco é que mercado de capitais, securitização e CDBs tenham cada um terço do funding.
O mercado automotivo do Brasil sofreu um tombo de 26,5 por cento em 2015, na esteira da recessão, da inflação alta e do aumento do desemprego, o que tem pressionado também a qualidade da carteira dos bancos.
Com o aumento dos juros e o mercado mais arisco a conceder recursos, os chamados bancos de montadoras vêm captando menos recursos e reduzindo prazos de financiamento de clientes, priorizando aqueles que pagam mais à vista, para evitar um aumento mais acentuado das perdas com calotes.
Segundo Teixeira, o Banco Volkswagen não diminuiu o nível de aprovação das propostas de financiamentos em 2015, mas está centrando esforços nas operações que oferecem taxa zero de juros a compradores que pagarem entrada de ao menos 60 por cento do valor do veículo.
"O risco de inadimplência é bem menor nesses casos", argumenta o executivo.
Mesmo com esse esforço, o fraco ritmo de expansão da carteira pressionou o índice de calotes acima de 90 dias do grupo, que subiu de 2,3 para 2,7 por cento entre o final de 2014 e dezembro passado. O índice teve maior pressão do segmento de caminhões (5,2 por cento), especialmente nos clientes corporativos.
A Volkswagen Financial Services deve divulgar seus dados consolidados de 2015 até março. Sem citar números, Teixeira disse que o cenário mais adverso tem levado o grupo a maiores volumes de renegociação de dívidas e provisionamento para perdas, fatores que devem pesar sobre a rentabilidade.
"A rentabilidade deve cair, mas vai seguir satisfatória", concluiu.
Segundo a associação de montadoras, Anfavea, as vendas de veículos novos leves no Brasil devem recuar 7,3 por cento este ano enquanto as de pesados devem tombar 13,9 por cento.